TELA EM VOO

“Dunkirk”, dirigido por Christopher Nolan – A minha opinião…

“Dunkirk” está estreando nos cinemas amanhã.

Este que escreve, porém, teve a chance de assisti-lo nesta segunda, dia 21, na pré-estréia realizada no Cinépolis, em sala IMAX©, no Shopping JK, em São Paulo.

Depois de um bom tempo sem grandes novidades no gênero, o filme de Christopher Nolan renova a filmografia de épicos da 2ª Guerra Mundial – e com um tema muito especial!

A expulsão do Exército britânico, consagrando definitivamente a máquina de guerra nazista no Ocidente, na Europa continental, e a submissão final desta ao jugo do 3º Reich de Adolf Hitler poderia (e na época, até foi) ser avaliada como uma vitória definitiva deste. Nas praias de Dunquerque, os soldados britânicos deixaram praticamente todo o seu equipamento – de veículos e blindados, a fuzis e, mesmo, capacetes. Mais de 68 mil combatentes de Sua Majestade foram feridos, mortos ou capturados. Dificilmente, as tropas que retornaram às Ilhas Britânicas poderiam ser consideradas uma “força de combate”. O tempo, porém (e não seria necessário muito), mostraria o oposto.

Nas praias de Dunquerque, Hitler sofreu sua primeira grande derrota na guerra.

Mesmo diante de um inimigo que parecia então ser invencível, com o dobro de efetivos, e que tinha todas as vantagens para si, os britânicos lograram resgatar com segurança 338.226 homens de uma força de 400 mil! A participação voluntária e maciça de embarcações civis e seus tripulantes (muitos, os próprios donos das mesma) se tornaria uma legenda da determinação britânica de não se dobrar à tirania nazista. E a retirada em si (a Operação Dynamo), “against all odds”, de um Exército inteiro, num cenário todo dominado pelo inimigo, encontraria sua voz nas palavras de Churchill, ditas no último dia das operações de retirada na França – “Nós iremos lutar nas praias, nós iremos lutar as zonas de desembarque, nós iremos lutar nos campos e nas ruas, nós iremos lutar nas colinas; nós nunca iremos nos render”.

E é este episódio crucial, impactante da guerra, que é o foco do filme de Nolan.

Co-produção entre o Reino Unido, Holanda, França e EUA, traça uma perspectiva da luta através de uma tríade de pontos de vista – do ar, da terra e do mar. Com roteiro do próprio Nolan, um expoente de uma nova geração de diretores britânicos (tem 46 anos), que conquistou grande popularidade e reconhecimento ao dirigir trabalhos como a “Trilogia do Cavaleiro Negro” (os três filmes da renovada saga de Batman, feitos em 2005-2012) e “Interestelar” (de 2014); as filmagens tiveram início em maio de 2016, exatamente em Dunkerque, França, sendo feitas tanto com equipamento tradicional de 65mm quanto com formato IMAX©, sob o comando de Hoyte van Hoytema (que trabalhou com Nolan em “Interestelar”).

Antes desta obra, a Batalha de Dunquerque só merecera dois filmes: um drama de guerra com o mesmo título original do atual lançamento, “Dunkirk”, dirigido por Leslie Norman e lançado em 1958, e “Weekend à Zuydcoote”, de 1964, estrelado por Jean-Paul Belmondo.

E o que achei deste “Dunkirk” de Nolan?

Adorei.

Não se trata de um filme estilo “blockbuster”, hollywoodiano, como “O Resgate do Soldado Ryan” (Saving Private Ryan). Não há exatamente um personagem central, uma narrativa linear, “fácil”. Não se espere ir para ver um show de testosterona e virilidade, e boa propaganda de alistamento, como em “Falcão Negro em Perigo” (Blackhawk Down). Nada disso.

Nolan buscou uma abordagem própria e, nos tempos atuais, inovadora, para rodar o seu épico sobre uma batalha de tal magnitude e relevância, mas relativamente “ignorada” pelo cinema. Para isso, o diretor britânico debruçou-se sobre a capacidade dos antigos filmes “mudos” de impactar as plateias, em cenas de grandes massas humanas, através do foco em “detalhes” – exemplo disso é a atuação do ator Tom Hardy, como um piloto de caça da RAF (Royal Air Force, Força Aérea britânica), ou a do oficial naval britânico postado em Dunkerque, vivido por Kenneth Branagh. E o resultado se aproxima de outros épicos de guerra, como o magnífico “Stalingrad”, produção alemã de 1993.

A guerra é o protagonista.

Diante dela, movem-se os homens, seus destinos, sua vida e morte. Não são relevantes os “planos” dos Estados-Maiores, os nomes de Divisões, etc. O que importa é o que viveram aqueles serem humanos que se viram naquela praia francesa, naquele verão de 1940. Para o espectador, assim como o foi para os soldados, a linha temporal é abstrata – um segundo pode durar um século, um dia pode se esvair num segundo. E não só o tempo se dobra e altera – o espaço, o ambiente perdem suas características naturais. Numa batalha travada sobre uma praia, e no mar e nos céus, todos grandes espaços abertos por natureza, Nolan consegue criar uma angustiante opressão física, mergulha o espectador numa pesada claustrofobia.

E como não ter claustrofobia, cercado por um Exército inimigo, vitorioso e terrível!?

Aliás, aqui vai outro ponto que destaco – o inimigo.

Em nenhum momento do filme, o antagonista, o militar alemão, é personificado. Não se vê o rosto dos soldados do 3º Reich que penetram nos subúrbios da cidade francesa. Não se veem os olhos dos pilotos dos Stuka que mergulham sobre as praias, ou os dos pilotos dos Bf-109 e He-111. Como os soldados nas praias também não os viram. E não interessa. O inimigo estava em todo o lugar. O inimigo estava na ameaça de morte – a qualquer momento.

E quero, antes de concluir, dar um conselho – se puder, gaste uma grana maior e assista numa sala IMAX©. O filme merece. Depois da exibição, você vai concordar comigo!

Então, meu amigo, o “Dunkirk” de Nolan não é para você “entender” a batalha.

Este “Dunkirk” é para você se sentir na batalha.

E pode crer – consegue!

NÃO PERCA!

Uns dados técnicos da produção de “Dunkirk”


Vamos lá!

Como antecipamos na Edição 96 de ASAS, a parceria Nolan-Hoytema resultou no primeiro uso do equipamento IMAX© como “câmera de mão”, e Nolan buscou evitar ao máximo o uso de imagens geradas por computador (CGI, Computer Generated Image), um recurso bastante comum hoje para “criar” navios, tanques e aeronaves de guerra – mas raramente com resultados satisfatórios. Assim, em “Dunkirk”, foram utilizados três caças reais Supermarine Spitfire (dois Mk.IA e um Mk.VB) para as cenas de combate aéreo, assim como um Hispano Buchón (versão espanhola do Messerschmitt Bf-109, que representou exatamente este no filme), e a utilização de um navio de guerra real, o destroier da Marinha francesa Maillé-Brézé (uma embarcação da Classe T47, construída em 1957, e transformada em “museu flutuante” em 1988). Tudo bem! Sei que uns “puristas” vão observar que o Maillé-Brézé tem um visual muito mais moderno que o de um destroier britânico dos anos 30, e é óbvia a diferença de design do nariz do Buchón em relação a um Bf-109 alemão da guerra. Mas, como eu disse, Nolan não quis fazer um roteiro de narrativa direta, linear; nem uma “acuidade histórica” puxada de documentário. O que Nolan buscou foi imergir o espectador na guerra – é colocar você na praia bombardeada pelos Stuka! Então, quanto mais reais as máquinas – melhor!, mesmo que se precise dar um certo “desconto” à precisão histórica de modelos.

Por outro lado, investiu-se muito, muito mesmo, nesta busca da imersão do espectador na batalha. Numa das sequências, uma câmera IMAX© foi presa a uma aeronave que cai no mar, buscando o resultado mais realista possível!

Então, prepare o balde de pipoca!

E siga para as areias de “Dunkirk”.

 

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