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Voando de Econômica no A380 da Emirates

Por Sérgio Gonçalves

Na história da aviação, de tempos em tempos, surgem aeronaves comerciais que todos querem voar. Foi assim com os míticos DC-3 (anos 40), os Lockheed Constellation (anos 50), graciosos e famosos, e jatos como os Comet, Caravelle, Boeing 707 e DC-8, nos anos 60. Mais tarde, o Boeing 747, o lendário Jumbo, revolucionou a aviação mais uma vez e todos queriam experimentar a gigante aeronave. E, num outro plano, mais exclusivo, houve o supersônico Concorde, caro e cobiçado. Desde os anos 80, porém, nenhuma nova aeronave comercial trouxe glamour e novidades tecnológicas tão destacadas a ponto de fazer as pessoas quererem voar uma empresa específica apenas para experimentar o modelo. Isto mudou uns anos atrás, com a chegada do Boeing 787 Dreamliner, mas a verdade é que, na lista de desejos dos passageiros atuais, este não está sozinho e nem mesmo está em primeiro lugar, o qual é ocupado por uma aeronave da fabricante européia Airbus, o A380, que povoa o desejo de todos os passageiros por ser a maior aeronave comercial da atualidade em número de passageiros, destacando-se pelos dois andares em toda a sua extensão, com apelo de público similar ao que o Jumbo teve nos anos 70.

Afinal, tudo no Airbus A380 impressiona, a começar pelo tamanho: 72,72 metros de comprimento. Pode até não ser o mais longo avião comercial da atualidade (pois perde por uns parcos metros para o Boeing 747-8 e o Airbus A340-600), mas supera os demais em todos os outros números: tem 550m2 de área útil para passageiros (40% mais do que o Boeing 747-8), 845m2 de área de asa, decola com até 575 toneladas, levando de 419 a 544 passageiros (total máximo autorizado de 868 pessoas) a uma distância de 15.700 km (8.500 milhas náuticas), numa velocidade de 945 km/h, com apenas dois tripulantes técnicos!

O preço também é gigante: $436.9 milhões de dólares por unidade.

Segundo dados da Airbus, até o momento foram encomendadas 317 aeronaves A380 por 13 operadores, 210 das quais já em operação. A Emirates é a maior operadora, com 97 aeronaves em sua frota e mais 45 encomendadas, chegando ao incrível total de 142 Airbus A380. Na companhia, há três tipos de configuração de assentos para esta aeronave: 491 com três classes (First, Business, Economic) ou 518 assentos em duas classes e uma nova configuração de alta densidade, com 615 lugares em duas classes. A capacidade diária de transporte desta frota, quando todos os 142 estiverem em operação, será de 73.414 passageiros ao dia! Hoje, a Emirates informa que sua frota opera com ocupação média de 90 a 100%.

Por se tratar do maior avião de passageiros em uso hoje, até mesmo os aeroportos tiveram de se preparar para receber o A380. O grande peso distribuído em vinte rodas nos trens principais e duas no dianteiro e a grande envergadura foram as principais questões, que exigiram reforços em pisos e pistas, bem como aumento de largura de algumas runways e taxiways para evitar ingestão de materiais pelos motores externos. São Paulo foi uma destas cidades que teve de fazer ajustes. E desde 26 de março deste ano, a Emirates tornou-se a pioneira em operar regularmente com o Airbus A380 na capital paulista, com voos diários (EK261 e EK262) na rota Guarulhos (GRU)-Dubai (DXB).

A companhia tem orgulho do alto índice de ocupação de suas aeronaves, e isso é verdade também nos voos para o Brasil, que são realizados todos os dias em sua capacidade quase completa. Faço a rota GRU-DXB e DXB-HKG (Hong Kong) ao menos uma vez por mês desde 2014, e até março deste ano os voos EK261 e EK262 eram operados pelos Boeing 777-300ER, também sempre cheios. Comecei a voar o A380 há quatro anos, nas etapas entre DXB-HKG (EK382), algumas vezes com pouso intermediário em Bangkok (EK384). A volta (EK383 e EK385, respectivamente) também são operados pelo modelo, sempre cheios e concorridos.

A Emirates possui um serviço bastante agradável em todas as classes e os benefícios justificam o preço que se paga nas tarifas. Mesmo se voando de Econômica, há uma enorme distância entre a Emirates e as concorrentes, especialmente se comparada com as companhias dos EUA e da Europa. A First Class no A380 possui chuveiros e as Private Suites, carpetes com microfibras óticas para reduzir o jetlag, assentos que se transformam em camas de 2m de comprimento e portas corrediças, verdadeiros “quartos privados”, com tela de TV de 32 polegadas e um minibar bastante atraente. A Executiva possui assentos um pouco menores (1,8m quando transformados em cama), TV de 23 polegadas e um pequeno personal bar no assento. Seu destaque é o On Board Lounge Bar, na traseira da aeronave, que vira um animado ponto de encontro durante o voo, com direito a barmen e drinks especiais.

Já a Classe Econômica é incomparável a dos demais aviões e empresas. Além do bom serviço na questão amenidades, entretenimento, bebidas e alimentação, o espaço interno do A380 é muito mais agradável e bem aproveitado do que o do Boeing 777-300 da própria Emirates. Há diferentes configurações na frota, mas o pitch (espaço entre as poltronas) do Airbus possui uma a duas polegadas a mais entre as fileiras e o assento em si é uma polegada mais largo. Parace pouco, mas você sente esta diferença, ainda mais em um voo de mais de 14 horas. A tela de TV possui 13,3 polegadas; e em todas as classes há controles handset, portas USB e tomadas normais de energia.

O Airbus A380 também é uma aeronave bastante estável e agradável de se voar. As diferenças começam no taxi da aeronave e ficam bastante evidentes na corrida para a decolagem, que pode ser assistida por uma das três cameras de bordo: frontal (no trem dianteiro), traseira (na cauda) ou inferior (na barriga da aeronave). Não se sente a velocidade real do A380 na decolagem, que é realizada a 150nm (277km/h), pois ele decola suavemente. O pouso acontece da mesma maneira: a velocidade é de 130nm (240km/h) e eu nunca experimentei um “pouso duro” no A380 nos meus mais de 40 voos neste modelo. O passageiro se sente seguro pela estabilidade que é garantida não apenas pela asa gigante e fortes motores, mas pelo sofisticado sistema de controle de voo. Enfim, uma aeronave fantástica para se voar.

EK262 – GRU-DXB

Como já mencionado, em Guarulhos, para receber a operação do maior avião comercial do mundo, as pistas de pouso e decolagem e taxiamento tiveram de ser alargadas em 15m, passando de 45m para 60m de largura. O A380 chega operando o EK261 às 16h30. Um total de 70 a 80 pessoas trabalham para que o avião fique pronto para o novo voo, incluindo o abastecimento dos 320.000 litros de combustível necessários. A partida do voo de volta para Dubai, o EK262, acontece à 1h25. A distância direta entre Guarulhos e Dubai (7.600 milhas ou 12.231 km) é vencida em 14h30, com poucas variações neste tempo total. A chegada em Dubai ocorre às 22h55 (horário local). Os Airbus A380 da Emirates em uso nas rotas do Brasil possuem capacidade para 491 passageiros em três classes: 14 na First, 76 na Business e 401 na Economy.

Para as passagens, que podem ser compradas a um preço que varia de R$ 5 mil a R$ 50 mil, há duas formas de check-in: online, pelo app da empresa (com versões para Android e iOS) ou diretamente no aeroporto, com opção de autoatendimento. Pelo The Emirates App, o check-in online tem início 48 horas antes do voo. Depois de fazer check-in, é possível imprimir o cartão de embarque ou recebe-lo na versão mobile no celular. Para quem faz online, na chegada ao aeroporto, basta deixar as malas no balcão de entrega de bagagem e seguir diretamente para os procedimentos de segurança.

A Emirates possui diversos balcões de check-in para as três classes do A380, incluindo os exclusivos para First, Business, membros Skywards e até balcões para atender grupos. Há ainda a possibilidade de se evitar as filas com os convenientes quiosques de autoatendimento. Neles os passageiros escolhem seu próprio assento e imprimem o cartão de embarque. Depois, deixam as malas nos balcões de entrega de bagagem e podem se dirigir aos procedimentos de segurança. Sobre a escolha de assentos, os melhores, janela e corredor, são pagos para quem viaja de Economy e não tem pontuação Skywards, o programa de viajantes frequentes da Emirates.

Decidi fazer o voo GRU-DXB de Economy, e fazer DXB-HKG na Business. Nesta edição, portanto, vou tratar deste primeiro trecho (GRU-DXB). Na próxima ASAS, vou contar a minha experiência no lounge da Emirates, em Dubai, e de como foi o voo na Business (DXB-HKG).

O embarque em São Paulo é bastante ágil. Membros Silver e Gold do Skywards, realizam o check-in em prioridade, mesmo que o passageiro esteja voando na Economy. O serviço de lounge em São Paulo, Dubai, Hong Kong ou em qualquer outra cidade somente é liberado para os membros das categorias Silver e acima. Portanto, você só tem a ganhar. Inscreva-se no Skywards no seu primeiro voo com a empresa. A categoria Blue (inicial) já garante alguns benefícios.

Como a Emirates não possui lounge próprio no Brasil, os passageiros convidados (Skywards Silver em diante e Business & First Class) podem utilizar o GRU Executive Lounge, que possui sofás, buffet de lanches e comidas quentes, além de banheiros e chuveiros. O embarque é efetuado nos dois primeiros portões, preparados especialmente para receber o A380. Quem viaja de First ou Business utiliza o finger que leva diretamente ao andar superior da aeronave. Os viajantes de Economy viajam no andar inferior. Algumas empresas nas quais já voei o A380, como British Airways e Lufthansa, também tem Economy e Premium Economy no andar superior. Curiosamente, pela maior curvatura da fuselagem, a visão exterior das janelas superiores não é tão boa quanto no andar de baixo.

Em São Paulo o tempo de taxi do A380 pode chegar a 15 minutos. Após a decolagem, pelo horário, um lanche é servido após pouco mais de uma hora de voo. Pelo horário, a maior parte dos passageiros dorme, mas, para quem estiver sem sono ou quiser aproveitar o tempo, há wi-fi de uma forma bem acessível: 10MB grátis ou pacote para todo voo a 1 dólar no cartão de crédito (até 500MB). Se a opção for ver um filme ou ouvir músicas, pelo sistema ICE (Information, Communication, Entertainment) na tela podem ser acessados mais de 2.600 canais de filmes, programas de TV, músicas e podcasts. Serão, ao todo, três refeições no trajeto até Dubai, incluindo um almoço, mas a qualquer momento existem snacks nas galleys e a tripulação constantemente passa oferecendo água, sucos, snacks saudáveis (frutas) ou chocolates.

Os banheiros do A380 são bem mais amplos que os de outras aeronaves da categoria, mesmo na Economy. Na parte de trás há dois com janelas. Logo na entrada, do lado esquerdo, há três lavatórios, um deles exatamente ao lado da cabine de comando. Este é o maior deles. Há uma pequena escada levando até ele. Exatamente deste lugar sai uma das escadas que leva ao andar superior, em geral usada para embarque e desembarque da First e Executive, se o aeroporto não possuir finger com alcance ao segundo andar. Na parte traseira da aeronave há outra escada, circular, bastante charmosa, mas usada apenas pela tripulação.

Após o serviço de bordo, a iluminação na aeronave é bastante diminuída e há duas características marcantes nos aviões da Emirates: o sistema de luzes Mood Lighting, que cria um clima aconchegante e o sistema de LED nos tetos, que reproduz um céu estrelado, inclusive com representações de Constelações reais, como a Ursa Maior e Menor, por exemplo. A maior parte da viagem de ida é efetuada no FL370 (37.000 pés, 11.270m), a uma velocidade média de 900km/h, a uma temperatura externa de -48 a -50ºC.

Por se tratar de um voo longo, é recomendável se exercitar um pouco e esticar as pernas. Ao fazer isso, aproveite para abrir as pequenas janelas que existem nas portas da aeronave, em especial as duas primeiras. A vista das asas e dos motores em voo é fantástica e fotos espetaculares podem ser feitas destes locais. Após cruzar o Atlântico se chega na África pelo Golfo da Guiné e no sobrevoo da Nigéria uma refeição mais substancial (almoço) é servida, incluindo bebidas alcoólicas (sem nenhum custo adicional). Após, café, chá ou licores são oferecidos aos passageiros. O trajeto continua por sobre o Tchade, Sudão, Mar Vermelho e Arábia Saudita, até o pouso noturno em Dubai. A Emirates possui um programa chamado “tailored arrivals”, que permite ao controle da empresa monitorar as aeronaves que se destinam a Dubai em voo, garantindo máxima performance em velocidade e padrão de voo, capaz de permitir à tripulação um padrão de voo contínuo e otimizado até o pouso em DXB, economizando combustível e reduzindo emissões de gases poluentes. Na chegada, alguns voos GRU-DXB são encaminhados para a área remota e os passageiros são desembarcados para ônibus que os levam ao terminal. Esta é uma excelente oportunidade de apreciar o tamanho da aeronave. Como uma atenção final, um cartão Fast Track é entregue  para passageiros Silver, Gold, Business & First. Ele permite passagem em check’s especiais de segurança na chegada, sem filas.

Enfim, mesmo na Economy, uma inesquecível experiência de voo!

 

Conectado ao finger, pronto para o embarque em Cumbica.

Uma vista geral da Economy, durante o embarque.

O pitch das fileiras da Economy do A380 da Emirates é digno de elogio, e a “polegada a mais” na largura das poltronas faz diferença!

 

 

 

 

 

O desembarque “na remota”, em Dubai.

 

Sobre o autor

Sergio Goncalves

Comentários

  • Sérgio, valeu pela reportagem, foi sensacional, mas eu tenho uma pergunta: qual a melhor fileira pra sentar?
    Estava na 56 e peguei a 44, acha que fiz uma boa escolha?

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