AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA

Brasil caminha para a interoperabilidade no mar

Helicópteros Apache do Exército Britânico operam do Porta-Helicópteros durante a intervenção na Líbia

O recém-incorporado Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico, da Marinha do Brasil, tinha uma característica curiosa durante os quase 20 anos de serviço no Reino Unido: aeronaves da Força Aérea e do Exército inglês operavam lado a lado com as aeronaves navais, aumentando a oferta de capacidades diferentes a bordo. Esse nível de interoperabilidade entras as Forças Armadas parece ter desembarcado no Brasil: no último dia 26 de outubro, pela primeira vez, um helicóptero H-36 Caracal da Força Aérea Brasileira pousou a bordo de um navio em alto mar.

A operação inédita ocorreu a bordo de uma outra embarcação, o Navio Doca Multipropósito Bahia, o segundo com maior convés para operações aéreas. A expectativa é que helicópteros do Exército também façam operações embarcadas, já que as três Forças estão trabalhando juntas nessa proposta de interoperabilidade.

H-36 da FAB pousa no NDD Bahia

Antes do pouso pioneiro, ocorreram treinamentos em terra e no mar, sendo as atividades terrestres realizadas na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, localizada no Rio de Janeiro, e a parte marítima feita por meio de pousos a bordo de navios da Marinha, na Baía da Ilha Grande. Foi constituído um Grupo de Trabalho Inter Forças (GTI) com o propósito de produzir a documentação necessária à viabilização de operações conjuntas e emprego dos meios das três Forças de forma integrada nesses meios navais.

“Tanto o Exército quanto a FAB estão acostumados a cumprir missões em áreas restritas, então, se ambientar em uma situação embarcada, é algo em que a orientação pra pouso, a fonia e os circuitos de tráfego aéreo são diferentes e demandam uma preparação grande. É uma ação que exige tomar precauções de segurança”, explicou o coordenador do grupo, Vice-Almirante Victor Cardoso Gomes.

“A importância da capacitação que o Esquadrão e, por conseqüência, a FAB acabou adquirindo, é a de poder, a bordo de embarcações da Marinha, operar em qualquer parte do mundo. Pois são justamente os helicópteros, vetores extremamente versáteis, aqueles mais utilizados em missões humanitárias da ONU”, avaliou o comandante do Esquadrão Puma da Força Aérea Brasileira, Tenente-Coronel Aislan Brum Cursi.

Três primeiros helicópteros H225M do Exército, Marinha e Força Aérea, entregues juntos em 2010

Vetores semelhantes

Um fator que facilita a integração é que atualmente tanto a Marinha quanto o Exército e a Força Aérea operam o helicóptero Airbus H225M, fruto de uma encomenda de 50 unidades do Ministério da Defesa à subsidiária brasileira, a Helibras. Designados UH-15 Super Cougar, HM-4 Jaguar e H-36 Caracal, respectivamente, as aeronaves são praticamente iguais, e o projeto de aquisição, chamado de HX-BR, já ocorreu de maneira compartilhada.

“A interoperabilidade tem sido cada vez mais importante, pois a interação entre as Forças torna possível uma maior flexibilidade diante de vários cenários que possam aparecer. Isso já vem acontecendo, inclusive, na parte logística, onde o projeto HX-BR troca muitas informações entre aeronaves similares. Temos aproveitado esse ganho, e agora partimos para a parte operacional também”, ressaltou o Comandante do Esquadrão HU-2 da Marinha do Brasil, Capitão de Fragata Leonardo Alonso Corrêa da Costa.

Adquiridos em momentos diferentes, as três Forças também operam helicópteros Esquilo e Black Hawk.

Disponibilidade de convés

Apesar de não contar mais com um porta-aviões, a Marinha tem hoje uma disponibilidade razoável para operações com helicópteros: além das fragatas e corvetas, capazes de levar modelos de pequeno morte, o Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico é preparado para operar 18 unidades de médio porte e o Navio Doca Multipropósito Bahia mais quatro. Quando utilizados para missões como combate a guerra antisubmarino ou contra navios, por exemplo, podem levar todos os SH-16 Sea Hawk da Marinha, além dos UH-15A equipados com mísseis Exocet. Porém, nas missões de ataque à costa, com desembarque de tropas em terra, tanto aeronaves do Exército quanto da Força Aérea podem atuar.

Militares da FAB e da Marinha em briefing conjunto. Uma cena que será comum nos próximos anos?

História

Criada em 1941, a Força Aérea Brasileira inicialmente absorveu aeronaves da então Aviação Militar (Exército) e Aviação Naval (Marinha). Porém, nos anos seguintes, a Marinha reestruturou suas operação aéreas a bordo de navios, o que gerou uma forte disputa com a Força Aérea por ocasião da compra do porta-aviões Minas Gerais, que começou a operar sob a bandeira brasileira em dezembro de 1960.

A Força Aérea chegou a tentar apreender aeronaves da Marinha, que por sua vez fez o então novo porta-aviões passar diante do prédio do Ministério da Aeronáutica com aviões navais a bordo. A disputa só foi resolvida em agosto de 1964, quando o presidente Humberto Castello Branco determinou que a FAB operaria os aviões e a Marinha os helicópteros.

Com o P-16, a Força Aérea Brasileira teve mais de 30 anos de experiência em operações embarcadas

De 1964 até 1996, aviões de patrulha marítima P-16 Tracker, da Força Aérea, operaram no porta-aviões da Marinha, tendo os voos sido suspensos com a sua aposentadoria. Dois anos depois, o presidente Fernando Henrique Cardoso revogou a proibição de a Marinha operar aviões, e logo foi realizada a compra dos caças A-4 Skyhawk, que chegaram a operar tanto no Minas Gerais quanto no seu sucessor, o porta-aviões São Paulo.

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