Por conta de suas características operacionais, o Daher Kodiak é uma aeronave adequada para a realidade de boa parte do Brasil. Para justificar essa afirmação, mais eficiente do que descrevê-lo com números e detalhes tecnológicos, é usar uma expressão dita por aqui que explica bem o avião da Daher: o Kodiak é um “pau para toda obra”, ou, no caso, “pau para todo voo”. Basicamente, é aquela aeronave pronta para pousar e decolar de pistas inacessíveis a outros modelos. E ter uma área interna para levar até nove passageiros, cargas e o que mais for necessário. Tudo isso com uma manutenção simples e hora de voo barata. Quem já precisou operar aviões nos rincões do Brasil entende, então, o diferencial do Kodiak.
Mas nada de pensar em um “teco-teco raiz”. Trata-se de uma aeronave genuína do século 21, beneficiada por décadas de evolução na área de engenharia e com tecnologia de ponta. E um dos destaques é o “discontinuous leading edge”, uma inovação no bordo de ataque da asa, que tem dois perfis aerodinâmicos. A seção externa tem uma corda mais longa e foi projetada com um ângulo de incidência menor. Essa parte da asa entra em estol a uma velocidade menor do que a seção interna, permitindo ao piloto manter controle total de rolagem próximo à velocidade de estol. Na prática, situações de voo impraticáveis para outros modelos são encaradas com normalidade pelo Kodiak. Os pousos e decolagens são realizados com muito mais segurança, também com ajuda de flaps do tipo Fowler, que ampliam significativamente a sustentação e reduzem a velocidade.

E há outros detalhes “invisíveis” que fazem muita diferença. O trem de pouso foi certificado com uma pressão mais baixa, ajudando a não atolar em pistas lamacentas. O conjunto é robusto, preparado para vários tipos de terreno. Em termos de segurança, a aeronave é protegida contra raios e passou por testes severos de decolagens abortadas, uma situação perigosa, frequentemente registrada em operações fora de aeródromos de grande porte.
Todo o conjunto voa com a confiança do motor Pratt & Whitney Canada PT6A-34, de 750shp, sendo capaz de alcançar até 2.096 quilômetros de distância, sem contar as reservas, voando a 250km/h e a uma altitude de 3.658 metros. Neste mesmo nível, é possível acelerar até 322km/h e ainda assim garantir 1.861 quilômetros de alcance. Para quem precisa enfrentar a imensidão da Amazônia (ou do cerrado, ou dos pampas, da caatinga, da Serra do Mar…), isso significa segurança para chegar com tranquilidade. O peso máximo de decolagem é de 3.290kg, sendo 1.874kg da estrutura vazia e 1.416kg de carga paga, podendo ser transportado um máximo de 1.777 litros de combustível.

A cabine permite levar até 7,02 m³ de volume de carga. Ela tem praticamente a forma quadrada, com 1,37 metro de largura, 1,45 metro de altura e 4,83 metros de comprimento. Na prática, tudo o que passar pela ampla porta quadrada, de 1,25 metro de lado, pode ser levado a bordo. E tudo isso numa aeronave que é relativamente pequena: são 10,30m de comprimento, 4,98m de altura e 13,70m de envergadura, com o destaque para distância entre as rodas do trem de pouso principal, de 3,48m, uma garantia adicional para pousos seguros mesmo em pistas difíceis.
E uma muito surpresa para quem voa em aviões da linha Kodiak é o conforto. Os passageiros têm assentos reclináveis, controle individual de ar-condicionado e entradas para fones de ouvidos. As janelas também oferecem um ambiente claro, com ampla visão externa, com os operadores podendo escolher diversas opções para a cabine, desde assentos posicionados como uma aeronave de linha aérea até uma configuração que lembra uma sala de reuniões, indicada para pessoas que aproveitam o voo como uma experiência coletiva.

E desde a sua certificação pela Federal Aviation Administation (FAA), em 2007, a versão básica, Kodiak 100, passou por constantes desenvolvimentos. Um dos primeiros foi a possibilidade de voar com flutuadores, para permitir pousos na água. Em 2017, veio a certificação da European Aviation Safety Agency (EASA). Até aquele momento, a fabricante era a Quest Aircraft, empresa que havia sido criada por conta desse projeto. Mas em 2019, a gigante Daher adquiriu a fabricante, o que impulsionou novas perspectivas. Em 2021, viria a Série III do Kodiak. E no ano seguinte, seria apresentado ao mercado o Kodiak 900, versão com 1,19m a mais, espaço para até dez passageiros, motor Pratt & Whitney PT6A-140A com 900shp de potência, peso máximo de decolagem de 3.629kg, velocidade de cruzeiro de 389km/h e alcance de 2.091 quilômetros. Destaque ainda para a possibilidade de permanecer mais de nove horas no ar, uma característica indicada para operadores governamentais, como organizações de segurança pública.
Com esses diferenciais, a expectativa é de uma participação crescente no mercado brasileiro, seja para voos em aeroportos bem estruturados, seja em aeródromos com poucos auxílios, ou até mesmo em campos de pouso de fazendas e outras localidades isoladas – com operadores indo desde o uso privado até parapúblico, e também com táxis aéreos e companhias aéreas regionais. A ideia é que o custo operacional seja acessível ao ponto de viabilizar rotas hoje inviáveis com aeronaves de geração anterior, hoje ainda operando no mercado brasileiro.











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