A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que os seis caças F-16 da Força Aérea Argentina estão autorizadas a sobrevoar e pousar na Base Aérea de Natal (BANT), no Rio Grande do Norte (RN), hoje, quarta-feira (03/12). As aeronaves e tripulações permanecerão na BANT até sexta-feira (05/12), quando está prevista a decolagem rumo à Argentina.
As aeronaves estão na Base Aérea de Gando, no arquipélago das Canárias, território espanhol próximo ao Saara Ocidental. Três KC-135 Stratotanker da United States Air Force se reuniram ao grupo argentino, formado ainda por um KC-130 Hércules e um Boeing 737. O “KC” argentino não pode realizar reabastecimento em voo dos F-16, sendo que esta tarefa ficará a cargo das aeronaves dos Estados Unidos, que receberam recursos para apoiar a missão.
Conforme o aplicativo Flightradar, por volta das 10h (horário de Brasília), os KC-135 realizam órbitas ainda perto da costa africana. A perspectiva é a de que o pouso no Brasil ocorra somente próximo do fim da tarde (horário brasileiro).


Traslado histórico
As aeronaves estão traslado desde a Base Aérea de Skrydstrup, na Dinamarca, até a Base Aérea de Río Cuarto, na Argentina, local onde a Fuerza Aérea Argentina estabeleceu seu centro de manutenção para os novos caças e deve se tornar a primeira base de operações. O traslado total é de cerca de 14 mil quilômetros. Os seis caças decolaram na manhã de 28 de novembro, sexta-feira, da cidade dinamarquesa e foram até Zaragoza, na Espanha. No sábado, ocorreu o traslado até a Base Aérea de Gando, também da Espanha, nas Ilhas Canárias.

A travesia transatlântica até o Brasil dependia de uma série de fatores, como a chegada dos reabastecedores dos EUA, avaliação operacional dos jatos em entrega e condições meteorológicas. Nesta etapa acontecerá, por exemplo, a travessia da região do Equador, onde ocorre a Zona de Convergência Intertropical, que pode causar tempestades intensas e turbulências.
Vale lembrar que os caças F-39E Gripen brasileiros, fabricados pela Saab na Suécia, vieram todos a bordo de navios, sendo feito o traslado aéreo apenas a partir do Aeroporto de Navegantes, no litoral catarinense.
Apresentação formal
Havia a expectativa de que os seis primeiros F-16, quatro da versão F-16BM, para dois ocupantes, e dois da versão F-16AM, para um ocupante, sejam apresentados oficialmente em uma cerimônia a ser realizada na Argentina no próximo dia 5 de dezembro, sexta-feira. Porém, pelo passar dos dias, já parece ser difícil realizar a solenidade no próprio dia 5. A imprensa local espera a participação do presidente Javier Millei. Um sobrevoo deve ocorrer sobre Buenos Aires no dia 6, sábado, ou 7, domingo.
Assinado pelas autoridades da Argentina em abril de 2024, o contrato de compra de 24 caças F-16AM/BM de segunda mão da Dinamarca se destacou pelo baixo custo: US$ 301 milhões. É menos de um terço do pacote de armamentos e equipamentos, além do fornecimento de suporte inicial para a operação das aeronaves, autorizado pelos Estados Unidos, tendo sido avaliado em US$ 941 milhões. Os demais quatro F-16BM e 14 F-16AM devem ser entregues até 2028.

O pacote autorizado inclui 36 mísseis AIM-120C Advanced Medium-Range Air-to-Air Missile (AMRAAM), 102 bombas MK-82 de 227 kg e 50 kits para bombas laser GBU-12 Paveway II. Também poderão ser vendidos diversos equipamentos de apoio, como rádios, dispositivos de criptografia, chaff e flares, equipamentos de comunicação e até serviços de reabastecimento aéreo e transporte para as aeronaves. As aeronaves, originalmente do Block 15, são equipadas com radares modernizados APG-66(V)3, o que finalmente dará à Argentina a capacidade de atuação na arena de combate aéreo além do alcance visual (BVR).
Hoje, a Argentina não conta com aeronaves reabastecedoras compatíveis com os F-16, pois seus KC-130 Hercules utilizam o sistema probe and drogue, enquanto os F-16 são reabastecidos pelo padrão Flying Boom. Por este motivo, estão em negociações processos para aquisição de jatos KC-135 Stratotanker, além da contratação de empresas que prestam o serviço de reabastecimento em voo.
Atualização estratégica
A compra dos F-16 ocorreu após décadas de pedidos por reequipamento da frota. Desde a Guerra das Malvinas, em 1982, a única evolução técnica vivenciada foi um lote de 36 jatos subsônicos A-4AR batizados de Fightinghawk. Enquanto seus programas de reequipamento não se concretizavam, a Argentina viu o reequipamento de outros países da região. A situação ficou mais grave depois de 2015, quando foram aposentados os últimos Mirage III, deixando a Fuerza Aérea Argentina sem capacidade supersônica.
Apesar de a chegada dos F-16AM/BM ser um salto significativo nas capacidades do país, essas aeronaves são, em teoria, menos capazes que os Sukhoi Su-30 Flanker da Venezuela, F-16C/D do Chile e F-39E Gripen em serviço no Brasil, já adquiridos pela Colômbia e em negociação com o Peru. Estão atrás também dos Eurofighter Typhoon britânicos estacionados nas ilhas Malvinas.

Britânicos alegam tranquilidade
Em 2024, o Ministério da Defesa do Reino Unido afirmou não encarar os caças F-16AM/BM da Argentina como motivo de preocupação para manter a soberania britânica das ilhas Malvinas, batizadas de Falklands pelos súditos do Rei Charles III.
Após a guerra de 1982, o principal investimento britânico na área foi a construção da Base Aérea de Mount Pleasant, operacional desde 1985. Em geral, o contingente destacado ali inclui quatro caças Eurofighter Typhoon FGR4, um reabastecedor Voyager KC2 e um A400M Atlas, além de helicópteros para missões utilitárias e de busca e salvamento. Também há uma companhia de infantaria do Exército e, quase sempre, pelo menos um navio de patrulha da Royal Navy.
VEJA TAMBÉM:











Comentar