“Sorbonne da Caça”. O apelido dado à Base Aérea de Fortaleza (BAFZ), em homenagem à renomada universidade francesa, era uma referência ao fato de que, por décadas, o local foi palco da formação de líderes da aviação de caça da Força Aérea Brasileira (FAB). A BAFZ também teve seu nome escrito na história por ser a base da aeronave envolvida no batismo de fogo da FAB, em 1942. Agora, após a vocação para combate, o local passa a ser um dos centros de inovação da força, passando a integrar a estrutura do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) em 22 de maio de 2025, exatamente 83 anos depois da histórica missão de batismo de fogo.

A BAFZ é anterior à Segunda Guerra Mundial. Foi criada em 1933, como o 6º Regimento de Aviação do Exército Brasileiro. Seu núcleo foi ativado em 21 de setembro de 1936, quando recebeu seus três primeiros aviões Waco. Em 22 de maio de 1941, com a formalização do termo “Força Aérea Brasileira”, recebeu o nome de “Base Aérea”, dentro da estrutura do então recente Ministéri da Aeronáutica. Logo em seguida, a unidade foi estratégica durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido casa dos então modernos bombardeiros B-25B Mitchell para missões de patrulha marítima já a partir de 1942, além de doze caças Curtiss P-36 e dois Douglas B-18 Boo. A unidade havia sido batizada como Agrupamento de Aviões de Adaptação.
O batismo de fogo da FAB ocorreu antes mesmo de o Brasil estar oficialmente no conflito, o que ocorreria somente em 22 de agosto de 1942. Exatos três meses antes, em 22 de maio daquele ano, um B-25B era tripulado pelos Capitães Parreiras Horta e Pamplona, ambos brasileiros, além de quatro militares da United States Army Air Force (USAAF): Tenente Schwane, Sargento Yates, Sargento Tyler e Sargento Robinson.

Os oficiais brasileiros estavam em missão de treinamento de formação operacional como pilotos de patrulha. Mas nenhum voo era realmente tranquilo: o Brasil ainda não estava oficialmente em conflito, porém qualquer tripulação da FAB, mesmo as envolvidas em treinamento, eram orientadas a voarem prontas para o combate. Qualquer submarino ou navio que não pudesse ser identificado seria considerado como possivelmente hostil.
Após um pouso em Natal para reabastecimento, os tripulantes avistaram o submarino Barbarigo, que estava à serviço das forças fascistas de Mussolini. Ao realizarem o ataque com dez bombas de 45 kg, os brasileiros registraram o batismo de fogo da FAB. A data até hoje é lembrada no Brasil como o Dia da Aviação de Patrulha.

Com 73 metros de comprimento, velocidade de até 30 km/h, dois canhões de 100mm, quatro metralhadoras e oito tubos para lançamento de torpedos, o Barbarigo havia atacado o navio brasileiro Comandante Lyra quatro dias antes. Era a oitava embarcação do País atingida pelas forças do Eixo, mesmo antes da entrada do Brasil na guerra.
O Barbarigo não chegou a afundar, mas o ataque mostrou a disposição brasileira. Até o final do conflito no Atlântico Sul, onze deles foram afundados em cerca de 15 mil missões de patrulha realizadas.

Sorbonne da Caça
Em 1956, a BAFZ deixou de abrigar bombardeiros e recebeu seus primeiros caças, os Republic P-47 Thunderbolt. A chegada das aeronaves significou a mudança de vocação do então 1º Esquadrão do 4º Grupo de Aviação, chamado de Esquadrão Pacau, que deixaria de operar bombardeiros – à época contava com os B-25J, enviados para Natal.
Ali se iniciava a trajetória do Esquadrão Pacau como unidade de formação de líderes da aviação de caça, uma tarefa que deu a Fortaleza a alcunha de “Sorbonne da Caça”. A BAFZ foi a única a receber os Lockheed F-80C Shooting Star, sendo depois complementados pelos TF-33. Em 1973, foram recebidos os AT-26 Xavante.
Uma polêmica histórica envolveu a Base Aérea de Fortaleza. Em 18 de julho de 1967, o então ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco faleceu após o bimotor Piper Aztec onde estava a bordo colidir com um TF-33 do Esquadrão Pacau a cerca de 1.520 metros do solo. A aeronave civil caiu deixando apenas o copiloto com vida. Já o treinador de combate pousou em situação de emergência.

O crescimento no movimento aéreo da capital cearense, bem como a disponibilidade de ampla estrutura na Base Aérea de Natal, promoveu a mudança do Esquadrão Pacau para solo potiguar em janeiro de 2002. Em troca, o Esquadrão Rumba foi enviado para Fortaleza. Com bimotores C-95 Bandeirante, a unidade é, até hoje, responsável por formar os futuros aviadores de transporte, patrulha marítima e reconhecimento. Porém, este esquadrão também foi transferido para Natal, em dezembro de 2013, deixando a BAFZ sem unidades aéreas, servindo basicamente como apoio para eventuais pousos no local e suporte par os militares da reserva que optam por morar em Fortaleza.
Na CRUZEX 2004, a Base Aérea de Fortaleza chegou a ser casa da “Red Force”, isto é, a “força oponente” à coalizão instalada em Natal (RN). Caças F-5, apoiados por reabastecedores KC-137 e KC-130, realizavam voos de defesa aérea, ao passo em que a unidade era alvo de ataque simuados de jatos A-1, F-16, Mirage 5 e A-4 das nações envolvidas no treinamento. Nas edições seguintes da CRUZEX, contudo, Fortaleza já perderia esta função.

Nova missão
Em 19 de janeiro de 2024, a Força Aérea Brasileira lançou no terreno da BAFZ a pedra fundamental do novo campus do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Será a primeira instalação do instituto de ensino fora do estado de São Paulo. A expectativa é a de que a sede cearense tenha a sua primeira turma em 2027. Apesar de a Base Aérea de Fortaleza já ter uma ampla infraestrutura, mais de R$ 50 milhões serão utilizados para adequação. O campus original do ITA continuará a receber turmas. Curiosamente, o vínculo com o estado nordestino se faz desde a história – a organização foi criada pelo Marechal Casimiro Montenegro Filho, nascido em Fortaleza – até os surpreendentes resultados de instituições de ensino cearenses nos processos seletivos.

A solenidade de transferência de subordinação da unidade, anteriormente vinculada ao Comando de Preparo (COMPREP), para o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em 22 de maio de 2025, marca o início das novas atividades como estrutura voltada à inovação, pesquisa e desenvolvimento da Força Aérea Brasileira. momento simbólico da transferência foi marcado pela passagem do estandarte da BAFZ, representando a transição de comando e missão. O estandarte, antes conduzido por um militar do COMPREP, foi entregue a um representante do DCTA, simbolizando oficialmente o novo vínculo administrativo e operacional da unidade.
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