AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA DOS ARQUIVOS DE ASAS

Brasil comemora 100 anos da aviação militar

Foto: Bruno Cilento

Há 100 anos, em 1919, quando o mundo ainda sentia os efeitos dos horrores da Primeira Guerra Mundial e a aviação ainda era uma tecnologia completamente inovadora, o Brasil inaugurava a Escola de Aviação Militar (EAvM), no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro (RJ). Essa página fundadora da aeronáutica brasileira foi comemorada um século depois em uma cerimônia que reuniu militares das três Forças Armadas, autoridades civis e representantes do corpo diplomático da França, país que ajudou na criação da Escola.

Durante a cerimônia ocorreu o descerramento de placa alusiva ao evento, com a participação de dois cadetes, um com indumentária de época e outro com o uniforme atual da AFA. Uma aeronave T-27 Tucano, utilizada no 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA na formação dos cadetes aviadores, sobrevoou o Campo dos Afonsos.

Foto: Bruno Cilento

Três aeronaves icônicas que fizeram parte dessa história também estavam presentes: um Nieuport 21E1, avião para um tripulante e destinado a combate aéreo, considerado um dos melhores aviões de caça da 1ª Guerra Mundial, tendo sido utilizado entre os anos de 1921 q 1930 como avião de treinamento na Escola de Aviação Militar; um Muniz M7, aeronave projetada pelo Major do Exército Brasileiro Antonio Guedes Muniz, o primeiro avião fabricado em série no Brasil, tendo seu protótipo sido construído no Parque Central de Aeronáutica do Campo dos Afonsos; e um Boeing Stearman A75L3 de matrícula K-132, sendo o “K” indicativo de que a aeronave pertencia à Escola de Aviação Militar, um avião para dois tripulantes, destinado ao treinamento primário de pilotos e que foi utilizado pela Escola de Aviação Militar do Campo dos Afonsos e pela Base Aérea de São Paulo, entre 1940 e 1948.

Foto: Bruno Cilento

Além disso, homens e mulheres trajando uniformes de época ilustraram ainda mais o cenário, tornando possível, sem muito esforço, imaginar os cadetes circulando por aquela mesma alameda, indo em direção aos hangares para mais uma instrução de voo, ou para a pista para entrar em suas aeronaves e desbravar os céus do Rio de Janeiro e do Brasil. O pesquisador de uniformes, Alberto Gomes Filho, esteve presente na cerimônia e destacou a importância das vestimentas. “Os uniformes históricos representam o inicio de tudo, como a criação do Ministério, em 1941, a participação na Segunda Guerra Mundial, dentre outros grandes eventos”, disse.

Foto: Bruno Cilento

“Poucos brasileiros sabem, mas a Aeronáutica brasileira, tanto civil quanto militar, nasceu no Campo dos Afonsos. É um solo sagrado, repleto de histórias, e nós temos que comemorar cada evento, homenagear os nossos veteranos, honrar os homens e mulheres que escreveram a história da Aeronáutica, e preservar este local”, afirmou o Major-Brigadeiro do Ar José Isaias Augusto de Carvalho Neto, reitor da Universidade da Força Aérea (UNIFA), que hoje funciona no local.

O evento contou com a inauguração de uma exposição com o tema: Campo dos Afonsos – 100 anos da Instrução Militar na Aviação Brasileira. O espaço contempla as comemorações do centenário da EAvM com vídeos, painéis temáticos, vitrines, publicações, maquetes e banners, que apresentam um estudo com fontes primárias, relatórios, avisos ministeriais, boletins, fotografias, além de publicações impressas dos regulamentos e periódicos da época.

Foto: Bruno Batista / Agência Força Aérea

Campo dos Afonsos

Em 1912, nasceu no Campo dos Afonsos a primeira organização aeronáutica brasileira, o Aeroclube Brasileiro, cujo presidente honorário era Alberto Santos Dumont e um dos sócios, o Tenente Ricardo Kirk, primeiro oficial do Exército e segundo militar brasileiro a obter um brevê de piloto de aviões.

Em 1914, o Campo dos Afonsos virou sede da Escola Brasileira de Aviação – EBA, cuja iniciativa partiu de um grupo de aviadores italianos. Porém, devido à 1ª Guerra Mundial e ao envolvimento direto da Itália, eles não puderam bancar as atividades da EBA e a escola fechou 5 meses após a abertura.

Foto: Bruno Batista / Agência Força Aérea

Mas também, por causa da 1ª Guerra, mudanças foram feitas no Campo dos Afonsos e, após um acordo feito com a França, em 1918, antes do final do conflito, chegou ao Brasil uma missão militar francesa e, no ano seguinte, em 10 de Julho de 1919, foi criada a Escola de Aviação Militar.

Anos depois, em 1941, foram criados o Ministério da Aeronáutica e a Força Aérea Brasileira e nossos pilotos lutaram bravamente na Segunda Guerra Mundial e a escola ainda formou, já como Academia, pilotos que cruzaram todos os estados do país em missões de busca, resgate, patrulha e na defesa de nosso espaço aéreo.

Foto: Bruno Batista / Agência Força Aérea

O Campo dos Afonsos deixou de formar os pilotos da FAB no final da década de 60. Em 1971 a Academia da Força Aérea foi transferida para Pirassununga, interior de São Paulo. Mas o legado e a história que pairam pelos ares do campo de voo ainda estão por lá, seja no acervo do museu, nas paredes de seus hangares ou nas calçadas por onde passaram inúmeros cadetes, cada um com sua história, mas todos com o mesmo desejo… o de voar.

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