Dois profissionais reconhecidos pelo seu treinamento, por suas capacidades técnicas e pelas suas realizações ganharam destaque nas últimas semanas. Porém, apesar de ambos serem “homens do ar”, seus respectivos recordes mostram a diferença de suas carreiras. Falamos aqui do Tenente-Coronel Eric Alvarez, da United States Air Force, que registrou cinco mil horas de voo a bordo de bombardeiros B-1B Lancer, e do comandante Ricardo Scheible, brasileiro que acaba de se aposentar com nada menos que 30 mil horas de voo.
O Comandante Scheible teve uma longa carreira na aviação, com 41 anos de atividades, somando aproximadamente 1,5 milhão de passageiros. Sua trajetória inclui passagens por grandes companhias nacionais e internacionais, como a VASP, TAM/LATAM, Air Luxor e Ethiopian Airlines, tendo pilotado desde aeronaves regionais como o Bandeirante até modelos de última geração como o Airbus A350. O início e o fim dessa jornada aconteceram na Abaeté, onde Scheible começou sua carreira como piloto e, décadas depois, retornou para contribuir com a gestão operacional e técnica da empresa.

“A aviação é uma profissão que escolhe as pessoas. E eu nunca me arrependi de ter escutado esse chamado”, afirma Scheible. “Voltar para a Abaeté foi uma das maiores alegrias que a aviação me proporcionou. E encerrar minha carreira aqui foi mais que simbólico: foi um pouso definitivo no lugar onde me tornei piloto”, completa. Na Abaeté, o brasileiro voava o Cessna Caravan.
Além de seu desempenho nos comandos das aeronaves, Scheible também exerceu um papel fundamental como instrutor e mentor de novos pilotos, atuando com dedicação em simuladores, treinamentos e formação técnica. “Sigo com o coração cheio de gratidão. Tive a honra de viver daquilo que amo. E agora, mesmo sem as asas profissionais, sei que continuarei voando – em cada história, cada lembrança, cada piloto que ajudei a formar”, reforça o comandante.
Recordista no B-1B
Na aviação militar, os tipos de missões são bem diferentes. Por isso, as cinco mil horas de voo do Tenente-Coronel Eric Alvarez também representam um marco, mesmo sendo apenas um sexto do registrado pelo comandante Ricardo Scheible. De acordo com um release oficial da United States Air Force, só um punhado de pessoas atinge marcas semelhantes.
Para chegar a esse recorde, ele passou 14 anos como militar da ativa e mais dez voando na reserva. A negativa de realizar o sonho de se tornar piloto de caça não o abateu, e ele sente orgulho de ter passado a voar nos bombardeiros B-1B. O primeiro voo no modelo ocorreu em 2004. De acordo com o Tenente-Coronel, a meta nunca foi apenas somar horas de voo. “Só caiu a ficha quando fui recebido pela minha família e amigos após pousar, porque seguimos como em qualquer outra missão, fazendo o que treinamos para fazer – subir e voar, estar pronto com nossas táticas e procedimentos,” disse Alvarez. “Treinar, voar e pousar, e, ah, aliás, você alcançou 5.000 horas!”
Como aviador da reserva, Eric Alvarez tem outras atividades profissionais, conciliando as duas vivências. Na USAF, ele voa como weapons systems officer (WSO) de jatos B-1B Lancer e é comandante do 345th Bomb Squadron, com sede na Base Aérea de Tyess, no Texas.

Recordes e realidade brasileira
De acordo com o site The Avionist, a USAF tem celebrado outros feitos em termos de horas de voo. Em junho de 2024, por exemplo, o Tenente-Coronel Justin Meyer se tornou o primeiro a alcançar duas mil horas de voo em aeronaves stealth, no caso dele, um B-2 Spirit.
Também no ano passado, Gary Hogg, que iniciou carreira militar nos anos 80 e passou pelos C-130 e MC-130 antes de ir para a vida civil e continuar a voar como piloto de testes, atingiu a marca de dez mil horas. Ao longo de 41 anos, ele voou, em média, 244 horas.

A realidade da Força Aérea Brasileira não é muito diferente. Isso pode ser notado a partir dos comunicados de promoção de oficiais-generais. Em dezembro de 2024, por exemplo, Vincent Dang e Valter Borges Malta foram promovidos a Tenente-Brigadeiro do Ar, o mais alto posto para aviadores em tempos de paz, com 4.800 e 4.500 horas de voo, respectivamente. Ambos se formaram na Academia da Força Aérea em 1988.
Vale destacar ainda o caso de Rodrigo Alvim de Oliveira. Formando de 1992 na Academia da Força Aérea, ele chegou, em dezembro de 2024, ao posto de Major-Brigadeiro do Ar após somar 2.500 horas de voo. A principal diferença é o fato de se tratar de um piloto de aviação de caça, tendo voado, principalmente, aeronaves AT-26 Xavante e A-1 AMX, cujas missões têm, por características das aeronaves, duração bem inferior à de aviação de transporte, por exemplo.

Porém, a carreira militar vai além. É o que revela o currículo dos oficiais-generais. O Major-Brigadeiro Rodrigo Alvim, por exemplo, foi oficial de segurança de voo, oficial de guerra eletrônica e comandante do Esquadrão Centauro, principal unidade de combate da Base Aérea de Santa Maria. Ao longo de sua carreira, contudo, também teve tarefas em Brasília, se destacando em funções como gerente operacional do então projeto F-X2 e chefe do Centro de Operações Especiais. São funções de indiscutível relevância, ainda que não signifiquem acúmulo de horas de voo.
Carreira Militar e Carreira Civil
Assim como mostram os exemplos norte-americanos, a carreira militar registra um acúmulo de horas de voo abaixo do registrado pelos pilotos civis, sobretudo porque as companhias aéreas atuam para manter aeronaves e tripulantes no céu, maximizando lucros, enquanto cada voo militar ocorre conforme os ganhos de treinamento ou realização de missões reais. Além disso, os militares acumulam funções relevantes em solo, enquanto companhias aéreas podem convocar profissionais de outras formações, ou mesmo ex-pilotos, para as atividades.
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