A Fuerza Aérea Argentina vai receber, de graça, um avião C-130H Hércules a ser repassado pelo Pentágono. Esse foi um dos saldos da visita da general Laura Richardson, chefe do Comando Sul dos Estados Unidos (SouthCom), a Buenos Aires, nesta semana. A pauta da representante militar, contudo, foi bem além dessa doação e envolve a disputa entre EUA e China por supremacia na área espacial.
Os Estados Unidos têm pressionado as autoridades argentinas a respeito da base de apoio do programa espacial chinês construída na região de Neuquén, na Patagônia. Os norte-americanos ressaltam a relevância de confirmar que as atividades desenvolvidas ali estão unicamente no escopo científico, conforme o contrato firmado em 2014, durante a gestão de Cristina Kirchner na Casa Rosada.
Conforme divulgado à época, a instalação tem como objetivo principal a observação e a exploração espacial. O temor já publicamente exposto tanto por argentinos quanto norte-americanos é que existam atividades de caráter militar, como rastreio de satélites e espionagem.
A base chinesa foi construída a cerca de 20 km do povoado de Bajado del Agrio, ocupando uma área de 200 hectares. A cessão do espaço inclui um dispositivo de imunidade diplomática, semelhante ao que ocorre nas áreas das embaixadas: isto é, não pode haver controle de alfândega nem barreiras migratórias para todos os que sigam para trabalhar ali.
A Argentina também não cobra impostos, ao passo que fornece comunicação, rotas de transporte, água e energia. Além disso, o acordo estabelece que não há transferência de tecnologia e que os cientistas indicados por Buenos Aires só podem trabalhar ali por cerca de 10% do tempo total de funcionamento das instalações, e sob aprovação das autoridades chinesas.
Caso o governo da Argentina decida suspender o acordo, ainda haverá um tempo de cinco anos para a China poder desinstalar todos os seus equipamentos e retirar seus técnicos. O maior destaque é uma antena de 48 metros de altura e 450 toneladas.
À imprensa argentina, a general Laura Richardson afirma que há uma relação forte entre os dois países há anos, não dependendo necessariamente dos pleitos. No ano passado, ainda durante o mandato de Alberto Fernandez, houve, por exemplo, a autorização para a compra dos patrulheiros P-3 Orion e dos caças F-16 Fighting Falcon.
A confirmação da escolha pela compra de caças F-16, feita já na administração de Javier Milei, significou o fim da possibilidade de compra de caças JF-17 Thunder, desenvolvidos pela China em parceria com o Paquistão.
Mais C-130
A doação de um C-130 usado para a Argentina se soma às transferências já realizadas pelos Estados Unidos de aeronaves semelhantes ao Equador (1), Colômbia (3) e Chile (2). Além disso, Peru (2 aeronaves) e Uruguai (2) compraram C-130 usados da Espanha.
A própria Argentina conduz a modernização sua frota de cinco C-130, com mudanças nos sistemas de navegação e comunicação, adoção de novos aviônicos e equipamentos mais modernos, como visão noturna e controle automático das hélices. Não foi informado se o C-130H a ser doado passará pelo mesmo processo.
Essas notícias são reveses para o KC-390, desenvolvido pela Embraer para substituir o C-130. Enquanto a aeronave ganha destaque com vendas para forças aéreas de primeira linha, incluindo a Coreia do Sul, Áustria e quatro de países-membros da OTAN (Portugal, República Tcheca, Países Baixos e Hungria), países da América Latina ainda não fecharam contratos.