AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA

FAB investe em pista estratégica na fronteira com a Venezuela

Pista é utilizada para apoiar o Exército, a Funai e a Fundação Nacional de Saúde

Depois de, em fevereiro de 2016, amargar um acidente com uma aeronave C-105 Amazonas na pista de Surucucu, localizada na região de fronteira entre o estado de Roraima e a Venezuela, a Força Aérea Brasileira melhorou as condições do aeródromo local, inseriu o cenário no simulador para seus pilotos e agora fez uma homologação específica para pouso de aeronaves C-105. A expectativa é que agora o modelo de avião utilizado pelo Esquadrão Arara, de Manaus (AM), possa operar com segurança na pista estratégica na região, usada para apoiar as forças do 4º Pelotão Especial de Fronteira do Exército Brasileiro, a 270 km de Boa Vista (RR).

A pista de Surucucu não é fácil. Construída nos anos 80 em um terreno montanhoso, a cerca de 1.000 metros, ela sequer é plana: existe uma diferença de altura de 43 metros entre as cabeceiras. Para completar o cenário, a aeronave precisa desviar de várias montanhas próximas à pista e tanto pousos quanto decolagens costumam acontecer com vento de cauda, o oposto do ideal.

Em 2016, o avião acidentado saiu da pista e não pôde mais decolar. A FAB então retirou todos os itens que podiam ser transportados, como motores, trens de pouso, hélices, assentos e equipamentos eletrônicos para serem reaproveitados no restante da frota.

Uso estratégico

Porém, a FAB decidiu que a pista deveria estar preparada para os C-105. Com dois motores de 1.972 cavalos de potência, o C-105 pode decolar com seu peso máximo, 23.200 kg, em 670 metros, segundo o fabricante.

Em situações de conflito, os C-105 podem ser utilizados, por exemplo, para o lançamento de até 40 paraquedistas. A capacidade de pousar e decolar em pistas pequenas também permite a infiltração e exfiltração de tropas em pousos táticos. Até 70 militares podem ser levados a bordo. Os aviões também são preparados para missões em território hostil. Eles vieram equipados com lançadores de chaff e flare, iscas utilizadas para despistar mísseis guiados por radar ou por calor, respectivamente.

Nem os C-98 Caravan nem C-95 Bandeirante possuem capacidades minimamente semelhantes.

A pista de Surucucu está em uma região complicada, mas foi deixada em plenas condições pela COMARA

Investimento e certificação

Em outubro de 2018, a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA) recuperou a pista. Um mês antes, o Centro de Computação da Aeronáutica de São José dos Campos (CCA-SJ) desenvolveu o cenário visual da localidade e o implementou no simulador do C-105, permitindo que os pilotos pudessem treinar a missão antecipadamente e obter a experiência necessária para realizar os pousos na localidade.

Com o asfalto recuperado e pilotos treinados, a campanha de certificação aconteceu entre 22 de outubro e 14 de dezembro.

A ação foi dividida em duas fases. Na primeira, foram treinadas as tripulações e feita a validação da operação proposta para Surucucu. Na segunda etapa, realizou-se a certificação final com o avião no aeródromo, com uma aeronave C-105 instrumentada com equipamentos específicos de ensaios em voo que permitiram a análise e posterior certificação junto ao Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), a autoridade de aeronavegabilidade militar brasileira.

As manobras contaram com três pilotos de prova para averiguar se as qualidades de voo da aeronave são compatíveis com as características da pista de pouso e condições climáticas predominantes. Foram utilizadas aproximadamente 90 horas de voo entre ensaios, transporte aéreo logístico e alerta SAR , além da participação de aproximadamente 30 militares.

A pista é também utilizável por helicópteros e aeronaves leves, como C-98 Caravan, C-95 Bandeirante, AH-2 Sabre, H-36 Caracal e H-60 Black Hawk. Vale lembrar ainda que o Gripen NG também se destaca pela capacidade de operar em pistas curtas.

 

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