A Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou a investigação a respeito de uma ocorrência com um caça F-5EM, do Esquadrão Pampa, ocorrido nesta quinta-feira (14 de setembro). Militares do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, em conjunto com o serviço regional da área, o SERIPA V, já iniciaram a apuração dos fatos.
Não foi confirmada a extensão dos danos na aeronave, porém, a FAB não classificou o ocorrido como “acidente”, e sim como “ocorrência”. Foi informado ainda que o piloto recebeu atendimento médico no Hospital de Aeronáutica de Canoas (HACO), mas já foi liberado para retorno às atividades.
Circulam na internet uma série de informações não oficiais, não confirmadas e eventualmente inverídicas a respeito da ocorrência, indo desde a classificação como “acidente” até descrições detalhadas sobre a sequência de eventos, com perda de sistema elétrico, dificuldades no comando da aeronave, falha no trem de pouso, perda do sistema hidráulico, pouso forçado e pouso de barriga.
Porém, parte significativa dessas informações só poderão ser confirmadas por meio da investigação a ser realizada pelos profissionais da área. Vale ressaltar, igualmente, que por se tratar de aeronave militar, a Força Aérea Brasileira não tem obrigatoriedade de divulgação de relatório, como ocorre em casos de acidentes com aviões e helicópteros civis.
50 anos de serviço
O fato é que a frota de caças F-5 da Força Aérea Brasileira se aproxima da marca de 50 anos de serviço, com a frota acumulando quase 300 mil horas de voo. Selecionado como novo caça tático no início dos anos 70, o modelo norte-americano foi entregue oficialmente à FAB em 28 de fevereiro de 1975, ainda nos Estados Unidos.
As três primeiras aeronaves, do modelo F-5B, destinadas ao treinamento de pilotos, chegaram efetivamente ao Brasil em 6 de março de 1975 na Base Aérea de Belém e depois foram deslocadas para a Base Aérea do Galeão, de onde operaram até a conclusão de obras na Base Aérea de Santa Cruz. O primeiro lote foi composto por 42 aeronaves novas, sendo 36 F-5E e seis F-5B, versão baseada no F-5A, mais antigo. À época, o F-5F ainda não estava disponível no mercado.
Um segundo lote foi adquirido em 1988. Dessa vez, 22 caças F-5E vieram acompanhados de quatro F-5F, versão mais adequada para a conversão operacional dos aviadores. Os F-5B foram retirados de operação ainda nos anos 90, enquanto os F-5E do segundo lote, com distinções logísticas, ficaram todos concentrados no 1º/14º GAV, que transferiu suas unidades para o 1º Grupo de Aviação de Caça.
Esse segundo lote, liberado pelo governo dos EUA somente após muita negociação e depois de o Brasil até avaliar adquirir caças chineses, foi composto por aeronaves usadas pela United States Air Force em seus esquadrões “Agressor”, que simulam aeronaves inimigas em treinamentos. A principal marca dessa história foi que durante anos o 1º/14º GAV operou seus caças em esquemas de pintura que lembravam as aeronaves da União Soviética e do Pacto da Varsóvia.
Um terceiro lote foi adquirido em 2008. Foram onze aeronaves usadas, adquiridas da Real Força Aérea da Jordânia, sendo oito F-5E e três F-5F. A compra aconteceu no contexto do processo de modernização dos F-5: entre 2006 e 2017, a Embraer recebeu todos os F-5 da FAB para troca do radar, dos sistemas de bordo e dos armamentos.
As aeronaves contam hoje com equipamentos como um sensor de mira acoplado ao capacete, que pode ser utilizado para guiar os mísseis com o movimento da cabeça do piloto. Porém, dificuldades orçamentárias e o foco na aquisição do novo caça da FAB fez com que nem todas as aeronaves do terceiro lote fossem modernizadas, ficando a maioria destinada a servir como fonte de peças. Ao todo, a modernização envolveu 43 F-5EM e 6 F-5FM, em um longo arco temporal que se prorrogou desde setembro de 2005 até outubro de 2020.
Com a aposentadoria dos Mirage, em 2013, o F-5 passou a ser a principal aeronave para defesa aérea do espaço aéreo brasileiro, sendo complementados pelos A-29 Super Tucano. Os F-5 chegaram a integrar simultaneamente cinco esquadrões da FAB: o Pampa, sediado em Canoas (RS); o Pacau, sediado em Manaus (AM); o Jambock e o Pif Paf, sediados em Santa Cruz (RJ); e o Jaguar, sediado em Anápolis (GO).
Desativação
Em dezembro de 2021, a FAB desativou o Esquadrão Pacau. Já haviam sido realizados leilões de partes dos caças F-5E do terceiro lote. Porém, naquele ano os cinco primeiros F-5 do primeiro lote foram estocados no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, sem previsão de reativação. Entre eles, estava o F-5EM com matrícula 4874, que serviu de protótipo para o processo de modernização, e o F-5FM com matrícula 4806, que fez um inusitado “pouso” sem tripulantes após a ejeção dos pilotos, em 5 de julho de 2016.
O demorado processo de modernização, que incluía a revitalização das células, vai permitir uma desativação em fases. Como o último F-5 revitalizado, matrícula 4810, foi entregue em outubro de 2020, isso significa, igualmente, que ainda falta muito para a despedida efetiva dos F-5 no serviço ativo da FAB, pois há unidades com poucos anos após a revitalização. Ao mesmo tempo, o F-5EM com matrícula 4874 já virou monumento na cidade de Carandaí (MG).
Em maio de 2022, a FAB publicou a PCA 400-200, intitulada “Plano de Desativação das aeronaves F-5E/EM/FM”. O documento trazia a informação de que havia, em março de 2022, 43 aeronaves na ativa, com oito desativadas. O esforço aéreo para o ano ficou previsto em 4.300 horas.
A frota seria reduzida para 35 aeronaves em 203, 32 em 2024, 28 em 2025, 26 em 2026, 23 em 2037, 20 em 2027 e 14 em 2029. O esforço aéreo também cairá anualmente, chegando às mil horas em 2029, quando deve haver a despedida do modelo.
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