A fala do presidente Jair Bolsonaro de que a Força Aérea Brasileira deverá receber um par de aviões de carga se tornou motivo de comemoração. “A falta de aeronaves de transporte estratégico, uma carência operacional da Força Aérea Brasileira (e do Brasil), desde 2013, será finalmente superada”, comentou no Twitter o Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior. O militar atualmente está à frente do Comandante-Geral de Apoio (COMGAP).
Questionado pela Revista ASAS, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica disse que ainda não irá emitir um comunicado sobre o assunto. A última informação oficialmente divulgada, em 16 de janeiro, tratava do cancelamento do aluguel de mais um jato 767. Na ocasião, a FAB ressaltou a necessidade operacional. “Considerada uma questão estratégica, as necessidades para a aquisição de uma grande aeronave de carga ainda persistem, com o objetivo de ampliar a capacidade e a autonomia de transporte intercontinental de pessoal e material, de acordo com os interesses da nação brasileira”, diz o texto.
No texto publicado em 16 de janeiro, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica também já havia deixado a margem para a interpretação de que ao invés de alugar um Boeing 767 poderia ocorrer a compra de outras, inclusive de outro modelo. “Nesta perspectiva, vislumbrou-se a oportunidade de aquisição de outras aeronaves mais adequadas às necessidades do que o 767 que era objeto do certame”, completou o comunicado.
Durante sua live semanal da última quinta-feira, o Presidente Jair Bolsonaro anunciou a compra de duas aeronaves de carga para a Força Aérea Brasileira. O presidente se referiu aos aviões como “A230“, em uma possível referência aos A330. Os recursos viriam da recuperação de verbas desviadas em casos de corrupção e que devem voltar ao orçamento público por meio de ações da Advocacia-Geral da União.
“De uma dessas ‘traquinagens’ do passado estão vindo 500 milhões para nós. E estamos buscando uma maneira de atender a Força Aérea. São dois aviões de carga A230 (sic) – são dois aviões de carga que nós não temos”, explicou o presidente durante a sua live semanal. Segundo Bolsonaro, há dificuldades para transportar oxigênio até Manaus porque a FAB contaria apenas com aeronaves de “pequeno porte”.
Hoje, o país não conta com nenhuma aeronave militar da categoria de peso e alcance do A330. Enquanto o peso máximo de decolagem de A330 supera as 230 toneladas, o KC-390, atualmente a maior aeronave em serviço na FAB, tem peso máximo de 86 toneladas.
O presidente não deu detalhes se a compra será de aeronaves novas, usadas ou modelos atualmente em uso civil que possam ser adaptadas para o serviço militar. Hoje, há aeronaves A330 em uso em companhias aéreas de todo o mundo, incluindo a Azul e a Latam. Não é incomum aeronaves de empresas serem adquiridas por forças aéreas. Os antigos 707 da FAB, por exemplo, voaram antes com as cores da Varig.
No cenário ideal, o presidente pode ter se referido ao A330MRTT, versão militar produzida na própria Airbus já com características específicas para forças aéreas. A sigla MRTT é de Multi Role Tanker Transport, que resume o caráter multifuncional da aeronave, já em uso na França, Reino Unido, Austrália e Coreia do Sul, dentre outros países.
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Os Airbus A330MRTT podem ser utilizados para missões de reabastecimento em voo, transporte logístico, transporte de passageiros e evacuação aeromédica. No caso do combate à pandemia de Covid-19, a Força Aérea da França utilizou aeronaves A330MRTT para fazer a transferência de pacientes de regiões mais comprometidas do país para outras, trabalho semelhante ao que a Força Aérea Brasileira tem feito atualmente a partir de Manaus, mas com o uso de aviões menores.
Hoje, a Força Aérea Brasileira tem um esquadrão sem aeronaves: é o Corsário, sediado no Galeão. A unidade voava quatro KC-137, versão militar do Boeing 707. Em 2013, uma das aeronaves foi perdida no Haiti e a frota foi aposentada.
Em 2013, há quase oito anos, a empresa israelense IAI venceu a concorrência então chamada de KC-X2 e iria fornecer dois aviões Boeing 767-300ER de origem civil convertidos para missões militares. O contrato, porém, nunca foi assinado. A FAB chegou a alugar um único Boeing 767 durante três anos, entre 2016 e 2018.
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