A recente possibilidade de caças de países da OTAN serem transferidos para a Ucrânia lembram um episódio ocorrido há quase 40 anos, em plena América do Sul. Em 4 de junho de 1982, dez caças Mirage 5P da Força Aérea do Peru foram repassados para a Força Aérea da Argentina em meio à Guerra das Malvinas.
As negociações, na realidade, já ocorriam desde 1981, mas a entrega em meio à guerra ia contra os embargos impostos por ocasião do conflito. Por esse motivo, toda a transferência ocorreu de forma sigilosa.
O voo de entrega ocorreu entre La Joya, no Peru, e Tandil, na Argentina, com uma escala em Jujuy, na Argentina. Pilotos peruanos fizeram o traslado, mas as aeronaves já estavam com marcações do novo operador, incluindo as matrículas C-403, C-404, C-407, C-409, C-410, C-419, C-428, C-430, C-433 e C-436, todas elas de caças Dagger argentinos perdidos na guerra.
Um decreto legislativo secreto foi aprovado no Peru para a venda de dez aeronaves, mísseis AS30 e peças de reposição. Os argentinos pagaram cerca de 50 milhões de dólares. Fabricados entre 1968 e 1974, eram aeronaves ainda com muito tempo de uso disponível, e capazes de cumprir missões de combate.
Ao que tudo indica, nem britânicos nem chilenos notaram, à época, a transferência. De todo modo, apesar das severas perdas sofridas na guerra, os argentinas nunca usaram os Mirage 5P no conflito, encerrado em 14 de junho de 1982.

Foto: Chris Lofting
As aeronaves acabaram inicialmente sediadas em Tandil, sendo transferidas em 1986 para a X Brigada Aérea, em Río Gallegos, substituindo os Mirage III que ali estavam. No ano seguinte passaram por um processo de modernização que os elevaram para o padrão Mirage 5 Mara, incluindo novo piloto automático, novos sistemas de armas e de navegação e RWR.
Todos os Mirage argentinos foram aposentados nos 15 primeiros anos deste século, sem que o país tenha recebido novos caças supersônicos.
Vale lembrar que a FAB emprestou 2 Bandeirulhas que foram usados em missões de patrulha em busca de navios ingleses e depois da Guerra foram devolvidos. Já depois do conflito, a FAB cedeu 11 Xavantes p/ repor as perdas sofridas pela Argentina.