Já capazes de realizar missões de busca e salvamento com até oito horas de duração, os três aviões SC-105 Amazonas da Força Aérea Brasileira devem finalmente começar a receber combustível em pleno voo, a fim de multiplicar tanto o alcance de deslocamento para áreas de busca quanto ampliar o tempo no cumprimento das missões. Até o dia 6 de outubro, vai ocorrer a partir da Base Aérea de Galeão uma missão para avaliar os ensaios do sistema de reabastecimento em voo.
O Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV) instalou equipamentos em um SC-105 para coleta de informações durante os voos. A primeira fase das atividades aéreas consistem em uma aproximação gradual de um KC-130 Hércules e, posteriormente, de um KC-390 Millenium, que deixa um “efeito de esteira” maior. O foco é garantir que as futuras interações entre as aeronaves ocorram em plenas condições de segurança.
Nesta fase, o processo demanda uma meticulosa coleta de dados. As equipes do IPEV utilizam softwares avançados para avaliar esforços estruturais em pontos diversos da aeronave recebedora e forças aplicadas pelos pilotos, dentre outros parâmetros.

Busca e salvamento especializado
Sediadas em Campo Grande (MS), as três aeronaves são do Esquadrão Pelicano, criado em 1957 para atuar nessa missão. Até 2009, a unidade contava apenas com os aviões SC-95 Bandeirante, de baixa autonomia. Em 2009, chegou o primeiro C-105 Amazonas, basicamente um cargueiro com janelas em formato de bolha. Finalmente, em 2017, 2019 e 2020 foram recebidas as aeronaves com configuração específica para busca e salvamento, o que inclui a possibilidade de reabastecimento em voo e buscas noturnas.
Fabricados pela Airbus, os aviões já foram certificados para receber combustível dos aviões KC-130J Hércules. O Brasil ainda voa a versão mais antiga, o KC-130H. A ideia, porém, é certificar os SC-105 para receberem combustível dos KC-390, que no Brasil já entraram em serviço para substituir a frota de C-130/KC-130.

Busca com tecnologia
Hoje, o esquadrão já está totalmente operacional com a busca pelo sensor ótico, que inclui um imageador infravermelho, uma câmera de alta resolução e um telêmetro, capaz de calcular distâncias com precisão ou servir para “apontar” um local de interesse para tropas que utilizem óculos de visão noturna (NVG). Também já foi consolidada a doutrina para busca com o uso do radar em áreas marítimas e avançam os estudos para as buscas terrestres com o modo de “Radar de Abertura Sintética”, que faz um mapeamento de uma região em alta resolução, sendo possível identificar destroços mesmo à noite ou em meio a nuvens.
Criado originalmente para voar com até 73 ocupantes a bordo, a tripulação mínima de um SC-105 Amazonas de busca é de oito militares: dois pilotos, um mecânico, três operadores de sistemas e quatro observadores. Porém, para missões de longo alcance embarcam até 22 pessoas. No caso dos observadores, por exemplo, eles se mantêm com o olhar fixo por períodos de 30 minutos. Macas, poltronas extras, um banheiro e uma pequena cozinha de bordo ajudarão a cumprir as jornadas que poderão chegar a 16 horas ininterruptas.

22 milhões de km²
A adoção do radar de bordo já representou uma evolução na capacidade de busca marítima, mas o Esquadrão Pelicano precisa ampliar seu potencial com o reabastecimento em voo.
O Brasil é responsável por uma ampla área de busca e salvamento sobre o Oceano Atlântico. Ao todo, são mais de 22 milhões de quilômetros quadrados, sendo 8,5 milhões de km² de território continental, 3,5 milhões de km² de Zona Econômica Exclusiva no Oceano e 10 milhões de km² de águas internacionais.
Atualmente, a capacidade de busca e salvamento da unidade aérea é plena sobre o continente, mas limitada no Oceano. A possibilidade de reabastecer em voo permitirá atuar nos limites dessa área: hoje os SC-105 até são capazes de chegar lá, mas não têm autonomia para realizarem a busca, sendo obrigados a voltarem imediatamente.
O trabalho naquela região é essencialmente realizado pelos P-3AM Orion e pelos C-130 Hércules. Os KC-390 também foram projetados para auxiliar na atividade de busca com longo alcance.
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