AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA

OPINIÃO – Crise na China revela falta de reequipamento da FAB

Em treinamento para os grandes eventos, piloto de helicóptero da FAB se prepara para missão em ambiente contaminado Foto: Sgt Alexandre Manfrim / Força Aérea Brasileira

Não se sabe se o governo vai atender aos pedidos e repatriar os brasileiros que estão na China isolados pelo temor do Corona Vírus. Porém, caso os óbices legais, financeiros, hospitalares e diplomáticos sejam superados, a Força Aérea Brasileira irá enfrentar um imenso desafio para cumprir a missão.

Aposentados em 2013, os quatro Boeing 707 seriam a opção adequada para cumprir a tarefa. É necessária uma aeronave capaz de levar um grande número de passageiros e com grande alcance, de forma a reduzir ao máximo o número de escalas em um voo da China até aqui. Mais: o ideal é utilizar uma aeronave militar que possa ser configurada especialmente para a missão. Hoje o Brasil não tem essa capacidade.

Os C-130 devem ser substituídos pelos KC-390

Caso o presidente Jair Bolsonaro dê a ordem, não há a menor dúvida de que os militares brasileiros vão fazer o possível e o impossível para cumpri-la. Mas não será fácil. Os C-130 Hércules, com seus motores à hélice, têm velocidade bem abaixo dos jatos, tornando o voo uma verdadeira saga. Os C-99, com baixo alcance e espaço para menos de 50 passageiros, teriam que fazer muitas paradas. E a dupla de KC-390 já em operação levam menos passageiros que um Boeing 767 (ou Airbus A330) e, para complicar, têm menos de cinco meses de serviços, não tendo sido realizada nenhuma empreitada do tipo.

Curiosamente, a aeronave mais próxima de atingir os pré-requisitos seria VC-1, o avião presidencial, versão VIP do Airbus A319. A aeronave, inclusive, já foi à China recentemente, em uma volta ao mundo realizada pelo Presidente. Mas nem dá para imaginar o risco de engajar a aeronave utilizada pelo chefe de Estado para transportar pessoas suspeitas de estarem com um ainda misterioso vírus mortal.

Jato presidencial brasileiro VC-1

Há, de fato, a opção de contratar o serviço de uma empresa civil. Porém, vale lembrar que tripulantes civis não são obrigados a arriscarem as próprias vidas. Também não estamos falando de passageiros convencionais: os militares brasileiros são capacitados nos conceitos de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, que envolve desde o preparo da aeronave até roupas especiais e treinamento específico para quem entrar em contato com as pessoas suspeitas de contaminação. Seria lamentável que, quando tão necessários, esses militares simplesmente não poderem atuar. Usar civis sem treinamento específico para a missão possivelmente aumentará o risco de contaminação e a necessidade de confinar pessoas em um quarentena.

Falta à Força Aérea Brasileira uma aeronave de grande alcance e grande capacidade de carga para suprir a ausência dos velhos 707, aposentados após um deles se envolver em um acidente no Haiti que, somente por muita sorte, não deixou vítimas. E a FAB sabe disso: há quase sete anos a empresa israelense IAI venceu a concorrência então chamada de KC-X2 e iria fornecer dois aviões Boeing 767-300ER convertido para missões militares. O contrato, porém, nunca foi assinado.

Aposentados em 2013, os quatro KC-137 nunca foram substituídos de fato

Ter um aeronave do nível do Boeing 767 ou A330 não deveria ser um desafio para um país com significativa economia, população e território. Na América do Sul, Chile e Colômbia contam com o Boeing 767 em suas forças aéreas.

Em 2016, a FAB alugou um único Boeing 767 da empresa Colt Aviation. O avião se destacou, por exemplo, no transporte de agentes de segurança durante crises e grandes eventos. Também apoiou a “Operação Acolhida”, distribuindo imigrantes venezuelanos pelo território nacional. Ainda no primeiro semestre de 2019, porém, o 767 foi devolvido após o fim do contrato.

A FAB chegou a operar um C-767. Mas o contrato de aluguel acabou

Entre possibilidades de compra, leasing ou aluguel de novas aeronaves, o que fica claro é que esses vetores fazem falta. Não somente à Força Aérea Brasileira, mas ao Brasil e aos brasileiros.

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