Caos e destruição. É assim que o jornal chinês Global Times descreve a situação deixada pelos Estados Unidos e seus aliados no Afeganistão. A reportagem conta com uma foto da Agência France Press que mostra três aeronaves Super Tucano diante de coletes a prova de balas e vários itens desarrumados em um hangar localizado em Cabul. Também já circula na internet a imagem de um C-130 abandonado.
A perda de pelo menos um Super Tucano para o talibã havia sido noticiada em 14 de agosto, quando foi publicada em redes sociais a primeira foto de extremistas ao lado de uma aeronave do tipo. O antigo governo do Afeganistão, que era aliado dos EUA, havia recebido 23 aeronaves A-29 Super Tucano. Também havia aeronaves. Há fontes que indicam que até sete Super Tucanos podem ter ficado para trás.
Há dúvidas, porém, se os talibãs conseguirão utilizar os aviões. Das cerca de 400 aeronaves que compunham o acervo da Força Aérea do Afeganistão, é estimado que cerca de 25% foram usadas para fugas. Isso sugere também que parte significativa da frota que caiu em mãos talibãs não está apta para voo, pelo menos imediatamente: de acordo com o Departamento de Defesa dos EUA, modelos como o Cessna 208 e os helicópteros Blackhawk tiveram uma abrupta queda na disponibilidade, e antes da tomada pelo talibã o índice estava abaixo de 30%.
Caso os talibãs queiram voar com as aeronaves capturadas, também haverá dificuldades em conseguir pessoal: somente para o Uzbequistão fugiram pelo menos 585 pilotos e mecânicos. Porém, há dúvidas sobre o que irá acontecer. No caso específico dos helicóteros Blackhawk e dos aviões A-29, especialistas ouvidos pela Air Force Magazine garantem que a grande maioria não devem se tornar operacionais. Podem até ocorrer voos, com demonstração de poder, mas dificilmente será possível cumprir alguma missão. As estimativas apontam cerca de 24 Cessna 208 e até 14 Blackhawks em condições de voo.
Há também o problema de pilotos. Nos primeiros meses de 2021 o talibã promoveu assassinatos de pilotos militares que atuavam em missões contra o grupo. Pelo menos seis foram mortos, segundo reportagem da Reuters. Isso significa que mesmo os que ficaram no país podem querer não se identificar ou serem mortos como vingança. As únicas informações até agora sobre voos de aeronaves sob controle talibã, de fontes ainda pouco confiáveis, mostram pilotos sob mira de armas voando helicópteros Mi-17. Isso seria impossível para um A-29, por exemplo.
Até junho de 2021, de acordo com o Pentágono, o Afeganistão contava com 38 tripulantes para seus 23 A-29 Super Tucano, quinze para os dez AC-208 e 28 para os 23 Cessna 208. No caso dos Blackhawks, também para dois tripulantes, havia 49 aviadores treinados para as 33 aeronaves disponíveis.
O Afeganistão não chegou a receber três A-29, oito UH-60 Blackhawk e dez MD-530. Todo esse material militar deverá agora ficar barrado nos Estados Unidos.