Já capazes de realizar missões de busca e salvamento com até oito horas de duração, os três aviões SC-105 Amazonas da Força Aérea Brasileira especializados nesta tarefa devem duplicar o tempo máximo de voo. Isso porque há o planejamento para em 2022 acontecerem os primeiros testes para reabastecimento em voo (REVO). Se tudo der certo, em 2023 os SC-105 poderão receber combustível em voo durante missões reais.
Sediadas em Campo Grande (MS), as três aeronaves são do Esquadrão Pelicano, criado em 1957 para atuar nessa missão. Até 2009, a unidade contava apenas com os aviões SC-95 Bandeirante, de baixa autonomia. Em 2009, chegou o primeiro SC-105 Amazonas e em 2017, 2019 e 2020 foram recebidas as aeronave com configuração específica para busca e salvamento, o que inclui a possibilidade de reabastecimento em voo e buscas noturnas.
Fabricados pela Airbus, os aviões já foram certificados para receber combustível dos aviões KC-130J Hércules. O Brasil tem uma versão semelhante, porém mais antiga: o KC-130H. A ideia, porém, é certificar os SC-105 para receberem combustível dos KC-390, que no Brasil já entraram em serviço para substituir a frota de C-130/KC-130.
Resgate à noite com auxílio de uma fogueira
Até 2017, as missões de busca e salvamento só ocorriam de dia. Os aviões decolavam com observadores capacitados para tentar localizar destroços utilizando um único instrumento: binóculos. A chegada dos novos SC-105 modificou essa realidade.
O maior exemplo aconteceu na madrugada de 7 para 8 setembro de 2020. Um helicóptero Robinson R-44 decolou de Jacareacanga (PA) e, após uma pane elétrica, pousou em um banco de areia próximo ao Rio Tapajós. Sem comunicação, os quatro ocupantes decidiram fazer uma fogueira para passar a noite.
O resultado é que mal precisaram ver o sol nascer: em voo direto saindo de Campo Grande, o SC-105 fez uma primeira busca na área, e às três horas da manhã o sensor eletro-ótico identificou a fogueira com clareza. Às 5h56, um helicóptero H-60 Blackhawk decolou de Manaus para realizar o resgate.
“Em alguns aspectos, a busca noturna é até mais efetiva”, conta o Comandante do Esquadrão Pelicano, Tenente-Coronel Leonardo Machado. “Qualquer coisa de luz e valor é mais detectável à noite”, explica.
Busca inteligente
Hoje, o esquadrão já está totalmente operacional com a busca pelo sensor ótico, que inclui um imageador infravermelho, uma câmera de alta resolução e um telêmetro, capaz de calcular distâncias com precisão ou servir para “apontar” um local de interesse para tropas que utilizem óculos de visão noturna (NVG). Também já foi consolidada a doutrina para busca com o uso do radar em áreas marítimas e avançam os estudos para as buscas terrestres com o modo de “Radar de Abertura Sintética”, que faz um mapeamento de uma região em alta resolução, sendo possível identificar destroços mesmo à noite ou em meio a nuvens.
Criado originalmente para voar com até 73 ocupantes a bordo, a tripulação mínima de um SC-105 Amazonas de busca é de oito militares: dois pilotos, um mecânico, três operadores de sistemas e quatro observadores. Porém, para missões de longo alcance embarcam até 22 pessoas. No caso dos observadores, por exemplo, eles se mantém com o olhar fixo por períodos de 30 minutos. Macas, poltronas extras, um banheiro e uma pequena cozinha de bordo ajudarão a cumprir as jornadas que poderão chegar a 16 horas ininterruptas.
22 milhões de km²
O Brasil é responsável por uma ampla área de busca e salvamento sobre o Oceano Atlântico. Ao todo, são mais de 22 milhões de quilômetros quadrados, sendo 8,5 milhões de km² de território continental, 3,5 milhões de km² de Zona Econômica Exclusiva no Oceano e 10 milhões de km² de águas internacionais. A adoção do radar de bordo já representou uma evolução na capacidade de busca marítima, mas o Esquadrão Pelicano precisa ampliar seu potencial com o reabastecimento em voo.
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De acordo com o Tenente-Coronel Machado, hoje a capacidade de busca e salvamento da unidade aérea é plena sobre o continente, mas limitada no Oceano. A possibilidade de reabastecer em voo permitirá atuar nos limites dessa área: hoje os SC-105 até são capazes de chegar lá, mas não têm autonomia para realizarem a busca, sendo obrigados a voltarem imediatamente. O trabalho naquela região é essencialmente realizado pelos P-3AM Orion e pelos C-130 Hércules. Os KC-390 também foram projetados para auxiliar na atividade de busca com longo alcance.
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