Com data comemorativa celebrada hoje, 24 de junho, a Aviação de Reconhecimento da Força Aérea Brasileira está em pleno desenvolvimento de um novo conceito doutrinário. Chamado pela sigla IVR, significa a aplicação integrada da Inteligência, Vigilância e Reconhecimento. Isso quer dizer que, tanto em tempo de paz quanto em situações de conflito regular ou irregular, as aeronaves da FAB trabalham de maneira integrada essas atividades.
A evolução se tornou possível graças às novas aeronaves e sistemas utilizados. À capacidade de reconhecimento clássica, realizada com a obtenção de imagens de uma área, foram adicionadas as missões do escopo eletrônico. Isso significa que, além de trabalhar com a tradicional IMINT (Imagery Intelligence), a FAB atua no escopo da SINGT (Signals Intelligence) e ELINT (Electronic Intelligence). Atualmente, por exemplo, uma aeronave como o R-35AM pode detectar emissões eletromagnéticas e assim descobrir quais os radares e sistemas antiaéreos instalados em uma região.
Na prática, houve uma ampliação das formas de cumprir o que a Aviação de Reconhecimento faz há décadas. “A atividade precípua da Aviação de Reconhecimento é gerar produtos de inteligência para auxiliar na tomada de decisão, seja a nível tático e operacional, em curto prazo; ou estratégico e político, em médio e longo prazo”, explica o Comandante do Esquadrão Carcará, Tenente-Coronel Bruno Gadelha Pereira.
A unidade aérea está sediada em Anápolis (GO), voando os R-35AM, de reconhecimento eletrônico, configurados com o sensor Thales DR-3000 Mk.2B. O sistema permite captar dados eletromagnéticos e classificá-los, podendo atuar tanto na arena ar-superfície quanto ar-ar. Hoje, os R-35AM são usados em missões que vão da vigilância de sistemas radares até o apoio aos caças em combate além do alcance visual (BVR). O Esquadrão Carcará também é equipado, desde os anos 80, com o R-35A, a versão equipada com câmeras.
No hangar vizinho, o Esquadrão Guardião conta com o R-99, que possui sistemas capazes de realizar imageamento de perímetros ou objetos terrestres, como áreas de queimadas e desmatamento, auxiliando os órgãos de fiscalização ambiental. Em 2009, esta aeronave realizou uma missão que representou a mudança de patamar da Aviação de Reconhecimento: os primeiros destroços da aeronave da Air France acidentada no Oceano Atlântico não foram localizados de dia, pela tradicial busca visual, e sim de madrugada, quando um R-99 identificou objetos metálicos e não metálicos na água, o que permitiu que no dia seguinte aeronaves de busca tradicial confirmassem se tratar do Airbus A330 acidentado.
A busca ótica também evoluiu ao longo dos anos. Em Santa Maria (RS), o Esquadrão Hórus conta com as Aeronave Remotamente Pilotadas RQ-450 e RQ-900, que se destacam pela longa autonomia e por poderem sobrevoar seus alvos sem serem identificados a olho nú. “A discrição de uma ARP em vigilância é incomparável, o que demonstra uma vocação natural para as operações de inteligência”, explica o Comandante do Esquadrão Hórus, Tenente-Coronel Daniel Lames de Araujo.
Em Santa Maria também está sediado o Esquadrão Poker, que tem os RA-1, caças A-1 equipados com sensores como o Litening e Reccelite, que permitem a captação de imagens mesmo sob ameaça hostil. Os futuros F-39 Gripen também serão capazes de realizar missões de reconhecimento, tanto ótico quanto eletrônico.
A Aviação de Reconhecimento vai além. Há ainda as missões de Controle Aéreo Avançado, Posto de Comunicação no Ar (P Com-Ar) e Controle e Alarme em Voo (CAV), esta última realizada exclusivamente pelos aviões-radar E-99 do Esquadrão Guardião. Atualmente, os cinco E-99 passam por um processo de modernização, conduzido pela Embraer. O radar e os sistemas de comando e controle receberão melhorias, com aumento da capacidade de processamento. “O novo sistema trará maior precisão, confiabilidade e rapidez na identificação e no alerta antecipado de aeronaves suspeitas. Já o R-99 passa por um processo de revitalização dos sensores, tendo seu Radar de Abertura Sintética totalmente recuperado e, ainda, suas antigas câmeras substituídas”, conta o Comandante do Esquadrão Guardião, Tenente-Coronel Felipe Francisco Espinha.
A localização do Esquadrão em Anápolis (GO) se deve à necessidade de, em qualquer parte do ano, deslocar esses aviões para pontos do país para reforçar a cobertura de radares em solo, uma tarefa fundamental para coibir voos ilícitos, sobretudo porque um avião-radar é capaz de detectar alvos a baixíssima altura. Esses vetores também são estratégicos para caso de conflito: hoje, todas as guerras modernas ocorrem com a participação de aeronaves desse tipo para conduzir ações ofensivas e defensivas.
Em tempos de paz, o Reconhecimento contribui com imagens que são utilizadas em situações diversas, como monitoramento e análise de: invasão de fronteiras, crescimento de cidades, modelo digital de superfície, cursos dos rios, queimadas, desmatamentos, pistas clandestinas, garimpos, entre outros. Há, ainda, a vigilância aérea, de fundamental importância para eventos como Jogos Olímpicos, Copa do Mundo e demais Operações Interagências, como as de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
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