ESPAÇO

Foguete sul-coreano será lançado no Brasil após acordo vetar transferência de tecnologia

Foguete da Innospace na plataforma de lançamento, em Alcântara. Foto: Força Aérea Brasileira

O Centro Espacial de Alcântara, localizado no Maranhão, será palco ainda este mês do lançamento inédito do foguete HANBIT-TLV, da empresa sul-coreana Innospace. A missão se destaca por ser a primeira de uma companhia privada no espaçoporto brasileiro e por ser realizada graças ao Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que veta ao Brasil o acesso a tecnologias empregadas no foguete de 16,3 metros e 8,4 toneladas, projetado para missões suborbitais, a até 100 km de altitude.

Na prática, com o acordo, empresas de qualquer país podem utilizar o Centro Espacial de Alcântara com a garantia de que tecnologias de origem norte-americana que estiverem a bordo não serão transferidas para o Brasil. No caso do HANBT-TLV, os brasileiros não receberão dados coletados pelo lançador durante o voo. Todas as atividades com o foguete e com o sistema de lançamento, incluindo a montagem da infraestrutura necessária, ficaram a cargo da Innospace, que pagou pelo investimento.

Trasnporte do HANBIT-TLV no Centro Espacial de Alcântara. Foto: Força Aérea Brasileira

A questão econômica foi, precisamente, a justificativa do governo brasileiro para aceitar o acordo, firmado em 2019. A ideia é que a de que o Centro Espacial de Alcântara possa ser utilizado por empresas que atuam na exploração privada do espaço, um setor econômico com perspectiva de captar bilhões de dólares nas próximas décadas. O Acordo de Salvaguardas Tecnológicas versa especificamente sobre sistemas de origem norte-americana, presentes em vários lançadores, inclusive de outros países, como no sul-coreano HANBIT-TLV.

Trata-se de uma visão diferente de outros grandes projetos de defesa nacionais assinados em governos anteriores, como a aquisição dos caças Gripen e dos novos submarinos, em que os fornecedores internacionais foram obrigados a transferir tecnologia e a trazer a produção para o Brasil. No setor espacial, porém, o entendimento é de que o país não teria como competir com governos e empresas estrangeiras que já dominam tecnologias indisponíveis por aqui.

Foguete da Innospace pronto para o lançamento. Foto: Força Aérea Brasileira

Com o Acordo de Salvaguardas, além da Innospace, outras companhias já se preparam para operar a partir da base brasileiras, como a C6 Launch, Virgin Orbit, Orion Ast e a Vaya Space. Caso todos os negócios se consolidem, Alcântara deve se tornar referência na exploração comercial do espaço. Ainda assim, apesar do otimismo expresso pelo atual governo, nem todos os negócios têm se desenvolvido tão rapidamente: a Virgin, a Orion Ast e a Vaya ainda não têm data para início das operações. Já a Hyperion foi excluída do projeto. A C6 planeja as primeiras decolagens para 2023.

Por fim, o empresário Elon Musk, criador da SpaceX, recebido de maneira efusiva por autoridades brasileiras e homenageado com a medalha Ordem do Mérito da Defesa, não firmou ainda contrato para ter operações a partir de Alcântara.

Missão de teste vai levar tecnologia brasileira

Apesar do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, o Ministério da Defesa e a Agência Espacial Brasileira assinaram um acordo com a Innospace para que esse primeiro lançamento fosse um teste com benefícios tecnológicos para o Brasil. A carga útil máxima é de até 50 kg, mas nesse nesse primeiro voo será levado apenas o SISNAV, um sistema de navegação inercial desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do Comando da Aeronáutica. O equipamento tem 20 kg e mede 310 x 400 x 280 mm².

Preparação do HANBIT-TLV no Centro Espacial de Alcântara. Foto: Força Aérea Brasileira

Se aprovado em um voo real, o equipamento poderá servir para o desenvolvimento de foguetes em desenvolvimento no Brasil, como o futuro Veículo Lançador de Microssatélites (VLM). Serão obtidos dados de voo que avaliam como o sistema se comportou em condições específicas de temperatura e pressão. Não haverá operação de resgate, pois os dados de voo serão coletados por telemetria, sem interferência da Innospace ou de outros representantes estrangeiros. Neste caso, é o Brasil que não transfere tecnologia.

A decolagem do HANBIT-TLV de Alcântara também será um teste para o foguete, aliás, será a primeira do modelo. Um dos objetivos é a validação do sistema de limentação por bomba elétrica, além de tecnologia híbrida, ou seja, com propulsores à base de oxigênio líquido e uma mistura de parafinas, o que proporciona composição química estável, fabricação mais rápida e de menor custo.

A edição 126 da Revista ASAS traz uma reportagem sobre a nova corrida espacial e a participação brasileira, inclusive a nova fase de operações em Alcântara.

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