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Porco Rosso e a Era de Ouro dos Hidroaviões

Por Claudio Lucchesi

A década de 1920 e a primeira metade dos anos 1930 foi a Era de Ouro dos hidroaviões.

Com a baixa confiabilidade dos motores aeronáuticos da época, era por demais temerário realizar voos que tivessem grandes trechos sobre as águas com aeronaves de base terrestre, pois no caso de falha mecânica e necessidade de um pouso de emergência, os ocupantes estariam quase que fatalmente condenados. Num hidroavião, não havia este risco – no caso de problemas nos motores, ou outra falha mecânica, bastava pousar com cuidado nas águas e enviar um pedido de auxílio, para ser socorrido por outro hidroavião ou uma embarcação!

Este é o cenário no qual se desenrola a trama da animação japonesa PORCO ROSSO, tema do Episódio 003 do Programa SEXTOU, no Canal da Revista ASAS no You Tube.

E aqui quero te convidar a conhecer alguns hidroaviões reais que “inspiraram” os modelos que aparecem no longa metragem!


Macchi M.5 – o “Savoia S-21”, o avião do protagonista, o próprio Porco Rosso, é diretamente inspirado neste hidroavião de caça que voou pela primeira vez em 1917. Aliás, o avião em que Porco Rosso trava seu último combate na 1ª Guerra Mundial, visto em flashback, é mesmo um M.5!

A maior diferença entre o “S-21” e o M.5 é que o primeiro tem asa parassol, e o segundo é um biplano. Armado com duas metralhadoras Vickers de 7,7mm, o M.5 chegava a 189km/h, sendo propulsado por um motor em linha Isotta-Fraschini V.4B, de 160hp. E vale dizer que houve mesmo um S.21, hidroavião de corrida feito pela SIAI para o Troféu Schneider, mas este não foi a inspiração do caça hidroavião do filme.

Curiosidade: a Aviação Naval da Marinha do Brasil utilizou dois modelos da mesma família de hidroaviões, os Macchi M.7 e M.9!


Cant Z.501 Gabbiano – este elegante hidroavião militar italiano voou pela primeira vez em 1934, sendo um modelo de patrulha marítima, com tripulação de 4-5 membros, e armado com três metralhadoras Breda-SAFAT de 7,7mm, levando ainda 640kg de bombas. Com um único motor Isotta-Fraschini Asso IX R.2C.15, de 880hp, chegava a 275km/h.

Apesar de estar obsoleto em 1940, foi utilizado pelos italianos durante a 2ª Guerra Mundial, e seus últimos exemplares só foram “aposentados” em 1949!


Breguet 521 Bizerte – este grande hidroavião francês de reconhecimento marítimo voou pela primeira vez em 1933, e depois da capitulação francesa em 1940, teve alguns exemplares confiscados e utilizados pela Luftwaffe, a Força Aérea alemã.

Era um aperfeiçoamento do Breguet S.2/8 Calcutta, que por sua vez era um tipo feito sob licença na França, do hidroavião britânico Short S.8 Calcutta (que voou pela primeira vez em 1928).

Com uma tripulação de 8 membros, era armado com cinco metralhadoras Darne de 7,5mm, e podia levar até quatro bombas de 75kg sob as asas. Utilizava três motores radiais  Gnome-Rhône 14Kirs1, de 900hp cada, alcançando 243km/h. 


Shorts Kent – este grande hidroavião comercial quadrimotor britânico podia levar até 15 passageiros, em acomodações bastante luxuosas, tendo sido desenvolvido à pedido da Imperial Airways, para atender algumas rotas de maior distância desta, como as ligações de Mirabella (Creta) a Alexandria (Egito).

Tendo voado pela primeira vez em 1931, apenas três foram construídos, tendo comprimento de 23,90m e envergadura de 34,44m. Seus motores eram quatro Bristol Jupiter XFBM, radiais de 9 cilindros, de 555hp cada; que lhe proporcionavam uma velocidade máxima de 220km/h.


Fiat CR.20 – este não é um hidroavião, mas aparece em Porco Rosso.

Trata-se de um caça biplano italiano, de base em terra, desenhado pelo genial projetista Celestino Rosatelli, que depois criaria os famosos caças biplanos CR.32 e CR.42 Falco, que se notabilizariam na Guerra Civil Espanhola e na fase inicial da 2ª Guerra Mundial, respectivamente.

O CR.20, que voou pela primeira vez em 1926, tinha um motor Fiat A.20 de 444hp, dando-lhe velocidade máxima de 270km/h, e era armado com duas metralhadoras de 7,7mm.


Hansa-Brandenburg CC – hidroavião de caça alemão da 1ª Guerra Mundial, criado em 1916, e que foi utilizado tanto pela aviação naval da Marinha Imperial alemã, quanto pela da Marinha do Império Austro-Húngaro. Os 37 aparelhos desta última foram empregados principalmente no Mar Adriático, durante o conflito.

Com um motor Benz Bz.III de 150hp, chegava a 175km/h e era armado com uma ou duas metralhadoras LMG 08/15 de 7,92mm. 


Macchi MC.52 – este belo hidroavião de corrida foi criado em 1927 para competir no Troféu Schneider. Em 30 de março de 1928, seu piloto, o Major Mario de Bernardi, na variante aperfeiçoada M.52bis estabeleceu um recorde mundial de velocidade, atingindo 512,77km/h.

Para a edição de 1929 do Troféu Schneider, a equipe italiana devia ser composta por três dos novos Macchi M.67, mas um destes acidentou-se nos testes, com perda total, e foi substituído pelo M.52bis. Este aparelho, pilotado pelo Oficial Aviador Tommaso Dal Molin, foi o único dos três aparelhos italianos a encerrar a corrida, terminando em segundo lugar, com a velocidade registrada média de 457,38km/h!


Savoia-Marchetti S.55X – este grande hidroavião bimotor italiano, que voou pela primeira vez em 1924, é bem conhecido dos brasileiros, pois foi com um deles, batizado de “Jahú”, que o paulista João Ribeiro de Barros fez a travessia aérea do Atlântico Sul em abril de 1927. Além disso, o modelo, operado como bombardeiro e avião de patrulha, foi utilizado pela Marinha do Brasil.

Além da própria Itália e do Brasil, outros operadores militares foram a Espanha e a Romênia. Já como aeronave comercial, foi utilizado nos Estados Unidos, União Soviética e também na Itália.

Mas o que granjeou fama mundial para o modelo foram os reides transatlânticos em formação realizados na década de 1930 pelo Marechal do Ar Italo Balbo. O mais Famoso destes foi feito em 1933, quando a esquadrilha italiana de 24 aeronaves, liderada por Balbo, cruzou o Atlântico Norte para estar presente na Century of Progress International Exposition, em Chicago (EUA). O reide teve início em 1º de julho, em Orbetello (Itália), e o voo foi completado em pouco mais de 48 horas, com Balbo mantendo a esquadrilha em formação cerrada em “V”.

A versão mais avançada, S.55X, tinha dois motores Isotta-Fraschini Asso 750, de 940hp cada, dando-lhe 279km/h e um alcance de 3.500km. Armado com quatro metralhadoras de 7,7mm, podia levar um torpedo ou até 2.000kg de bombas.

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