AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA

Argentina terá caças de segunda linha

Desenvolvido inicialmente como um treinador, o FA-50 é oferecido como uma aeronave de combate "light". Foto: KAI

Se no início dos anos 80 a Argentina enfrentou o Reino Unido com aquela que possivelmente era a mais poderosa força aérea da América do Sul, com dezenas de caças Mirage III, Mirage 5 e A-4, além de bombardeiros Canberra e aviões de ataque naval Super Étendart, a proposta de aquisição de 10 a 24 jatos sul-coreanos FA-50 Golden Eagle revela que nosso vizinho dificilmente voltará a ter uma aviação de combate de ponta. Mesmo que novo e com tecnologia recente, o FA-50 não é um caça de primeira linha, sendo uma aeronave leve de combate derivada de um treinador.

De fato, por ser supersônico e contar até com armas e equipamentos para combate além do alcance visual (BVR), a Argentina terá uma capacidade muito maior que a atualmente alcançada com os IA-63 Pampa e os últimos remanescentes de A-4AR Fightinghawk. Porém, mesmo com a aquisição do FA-50 a Argentina terá nas próximas décadas uma força aérea bem menos capaz que a chilena (F-16), brasileira (F-39 Gripen), venezuelana (Su-30) e peruana (Mirage 2000 e MiG-29).

A Coreia do Sul investe para tornar o FA-50 em um sucesso entre forças aéreas com orçamentos mais reduzidos

Hoje, só um país confia a sua defesa aeroespacial inteiramente ao FA-50: as Filipinas, que operam uma dúzia desde 2017. A Coreia do Sul e o Iraque adquiriram 60 e 24 unidades do FA-50, respectivamente, porém como uma força complementar aos seus F-16. A Coreia conta também com os F-15 e F-35.

O Golden Eagle, na realidade, faz sucesso é na missão para o qual foi originalmente desenvolvido: treinador. Coreia do Sul, Indonésia e Tailândia operam a versão T-50 na missão de formar os futuros aviadores de caça de suas forças aéreas. O Iraque faz o mesmo com os FA-50, designados localmente como T-50IQ, que é derivado do FA-50, mas manteve o designador T, de Treinador.

O T-50 é utilizado na Coreia para a formação dos futuros pilotos de combate

A história do jato surgiu com a autorização da Lockheed Martin para que a Korea Aerospace Industires (KAI) fabricasse sob licença caças F-16. A partir daí houve a ideia de criar um treinador avançado. A própria empresa norte-americana ajudou no desenvolvimento, que não por acaso resultou em uma aeronave que lembra o F-16. O primeiro voo aconteceu em 20 de agosto de 2002 e já em 2005 o T-50 começou a substituir os antigos T-37 e T-38. Os principais avanços foram levar para um treinador tecnologias como fly-by-wire, HUD, navegação inercial e cabine com conceito HOTAS.

A versão FA-50 conta com uma versão leve do canhão rotativo M61 Vulcan de 20mm, designado A50, com apenas três canos ao invés de seis. As últimas versões incluem a possibilidade de operar mísseis AiM-9 Sidewinder e AiM-120 AMRAAM. Entre os armamentos ar-solo se destacam mísseis AGM-65 Maverick e bombas com kits de guiagem JDAM ou SPICE. As indústrias de Israel e da Europa já demonstraram interesse em integrar mísseis Python, Derby, Meteor e ASRAAM.

O design do T-50 lembra o F-16 em diversos pontos. Não é por acaso

Já o radar padrão é o israelense Elta EL/M 2032, comparável aos Grifo utilizados pelos F-5EM da Força Aérea Brasileira. Há propostas para adotar radares mais modernos, como o Selex Vixen 500E ou um futuro radar AESA em desenvolvimento pela Samsung. Outro sistema já incorporado é o pod de designação AAQ-33 Sniper.

O motor General Eletric F404 pode ser substituído pelos F414 ou EJ200, mais potentes. O desempenho divulgado da aeronave prevê uma velocidade máxima de Mach 1.5. Para efeito de comparação, os futuros Gripen da FAB poderão voar a Mach 2 e, apenas com mísseis ar-ar, poderão chegar a Mach 1,2 sem o uso de pós-combustão, isto é, voando com economia, o chamado “supercruzeiro”.

Os Black Eagles ajudam a Coreia a promover seu jato T-50 Golden Eagle

Outros dois dados chamam a atenção para o desempenho do FA-50. O caça leve sul-coerano pode subir 39 mil pés em um minuto. Isso é um pouco superior aos F-5E (34 mil pés em um minuto), mas bem atrás do alcançado pelo F-16 ou Gripen (50 mil). O FA-50 também está limitado a manobras de +8g, enquanto os caças de primeira linha vão a +9g.

De olho na América

O negócio entre a Coreia do Sul e a Argentina está em curso desde 2016, quando uma delegação argentina visitou um esquadrão sul-coreano. Porém, os termos do acordo foram delineados na última reunião do G20 como um dos pontos de uma conversa a porta fechadas entre os presidentes Mauricio Macri e Moon Jaen-in.

O fato é que a Argentina não tem muita escolha. A recente compra de cinco jatos Super Etendart Modernisé já aposentados na Marinha da França só ocorreu após meses de dificuldades de financiamento para um conta de 15 milhões de dólares. Em crise econômica persistente, conseguir crédito internacional é um exercício cada vez mais difícil para os argentinos.

A Coreia estaria interessada em conceder o financiamento de US$ 200 milhões de dólares para dez aeronaves, um preço bastante inferior ao de outras propostas no mercado, inclusive de aeronaves usadas. As duas primeiras unidades do FA-50 chegariam já em 2019.

O fato é para os coreanos o negócio é um investimento. O real interesse deles é ampliar a sua presença na América Latina, algo que já conseguiram por meio do K-Pop e dos filmes na Netflix. Agora, o foco é a indústria aeronáutica.

Em 2012, o treinador turboélice KAI KT-1 Woongbi foi selecionado pela Força Aérea do Peru e vinte unidades foram compradas. Os projetos de compensação oferecidos pelos coreanos chegaram a envolver a construção de hospitais, escolas e usinas de tratamento de água.

Treinadores KT-1, já em uso no Peru, podem ganhar o mercado antes ocupado pelo Embraer Tucano

Lá, o KT-1 deve substituir a longo prazo os T-27 Tucano, também operacionais em várias forças aéreas do continente. Equador e Paraguai seriam os principais clientes em potencial.

Já o FA-50 teria mercado em praticamente todas as forças aéreas que precisam de novos vetores a baixo custo, o que descreve a realidade dos países da região. Bolívia, Colômbia, Uruguai, Equador, Peru poderiam vir a operar o novo caça.

Falando em presença coreana na Netflix, o T-50B é uma versão do T-50 operada pelo esquadrão de demonstração aérea da Coreia do Sul, o Black Eagles. Logo no início do filme há uma cena (bem exagerada!) com a aeronave. Mas nem no filme coreano o FA-50 aparece como o principal destaque…

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Redação

Comentário

  • Na realidade já tem muitos anos que o Brasil só voa com aeronaves de segunda linha. O nosso querido F-5E/F é um misto-quente de treinamento, não garante a “segurança” do Brasil, alias essa esta a cargo do EUA… Vocês da impressa não pode falar isso, mas eu posso. Porque falo isso: com base em dados e entrevistas dos próprios pilotos da FAB, o fato dos Vulcan nas Malvinas (foi interceptado já perto da costa e avisou com antecedência a torre do RJ) e o voo do Tupolev T-160 na nossa costa vindo da Venezuela (se fosse na Europa seria diferente e avisou também), o F-5E armado não possui alcance para um país continental como o Brasil. Ele serve no máximo para defesa de ponto no Rio, Canoas e Manaus.

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