Há exatos 50 anos, em 21 de dezembro de 1970, voava pela primeira vez uma das aeronaves mais icônicas da aviação de caça. Apesar de ter tido uma ficha de combate discreta com as cores norte-americanas, o F-14 Tomcat se tornou conhecido globalmente graças ao filme Top Gun.
Com dois motores Pratt & Whittney TF30, substituídos posteriormente pelos mais modernos General Electric F110, o F-14 podia superar Mach 2,3, isto é, 2,3 vezes a velocidade do som. Outras três características do F-14 são icônicas: as asas de geometria variável, os dois motores, a possibilidade de operar a bordo de porta-aviões e a presença de dois tripulantes em todas as versões.
Na frente, o assento é para o piloto, que efetivamente controla a aeronave. É o Maverick, de Top Gun. No assento traseiro está o Radar Intercept Officer (RIO), responsável pelo controle do sistema de armas, incluindo os mísseis AIM-54 Phoenix, modelo capaz de voar a Mach 5 e atingir alvos a até 190 km de distância ou mesmo 30 km de altura.
O radar AWG-9 podia acompanhar até 24 alvos simultaneamente e disparar seis AIM-54 ao mesmo tempo. Mísseis AIM-7 Sparrow de médio alcance e AIM-9 Sidewinder de curto alcance completavam a carga bélica, além de um canhão M61 Vulcan de 20mm.
O F-14 foi criado para, em caso de um conflito contra a União Soviética, ser lançado para destruir grandes bombardeiros, como os Tupolev Tu-16 e Tu-22. Para estar na linha de frente podia ser embarcado nos porta-aviões da US Navy, onde desempenhavam o papel de defesa da frota.
Já as asas de geometria variável podiam ser ajustadas entre 20° e 68° durante um voo, inclusive de forma automática. O enflechamento máximo amplia o desempenho para voos supersônicos, enquanto as asas mais abertas aumentam a autonomia e o controle a baixas velocidades, como para pousar. A bordo do porta-aviões, para ocupar menos espaço as asas eram configuradas em 75°.
Introduzido em serviço na marinha norte-americana em 22 de setembro de 1974, o F-14 Tomcat permaneceu no serviço ativo nos 32 anos seguintes, sendo responsável pela defesa aérea da frota. Para muitos, sobretudo por conta da influência cultural do filme Top Gun, o F-14 é a síntese do que é um caça avançado.
Na realidade, porém, a ficha de serviço foi relativamente curta. O modelo entrou em serviço a tempo de participar da cobertura área da operação Frequent Wind, a fuga dos Estados Unidos de Saigon, em abril de 1975. Já em 1981, dois F-14 abateram dois Sukhoi Su-22 Fitter da Líbia durante o chamado “Incidente do Golfo de Sidra”. A mesma ocorrência se repetiu na mesma região em 1989, mas dessa vez com dois MiG-23 sendo os alvos.
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Em 1991, durante a Guerra do Golfo, os F-14 acabaram com apenas um vitória ar-ar: um helicóptero Mi-8, abatido com um míssil Sidewinder. Por outro lado, em 21 de janeiro de 1991 um F-14A foi abatido por um míssil antiaéreo SA-2. O piloto conseguiu se evadir, mas o RIO acabou preso até o fim da guerra.
Contra o Iraque, por um lado o F-14 foi prejudicado pelas regras de engajamento restritivas, que praticamente inviabilizavam o uso de mísseis de maior alcance, como o Phoenix. Ao mesmo tempo, assim que um F-14 ligava seu radar AWG-9 os iraquianos saiam de cena.
O fato é que as forças do Iraque conheciam bem o F-14. Nos anos 80, o único usuário de exportação do F-14, o Irã, empregou os caças com sucesso durante a Guerra Irã-Iraque. Inicialmente o papel seria apenas a defesa de Teerã e o controle do espaço aéreo, como uma verdadeira aeronave de alerta. Porém, com o desenvolvimento do conflito F-14 foi para a linha de frente.
De acordo com os conceituado jornalista Tom Cooper, os 60 F-14 iranianos operacionais durante o conflito teriam abatido pelo menos 160 aeronaves iraquianas. A lista incluiria mais de 50 MiG-23, mais 20 MiH-21 e mais de 30 Mirage F1, inclusive com o míssil AIM-54. Pelo menos nove F-14 teriam sido perdidos, sendo dois por caças MiG-23 e três por Mirage F1.
O Irã havia recebido seus F-14 Tomcat antes da revolução islâmica de 1979, e até hoje consegue manter um número desconhecido deles em serviço. Nunca houve um combate contra os Estados Unidos, mas antes mesmo da Guerra Irã-Iraque o Pentágono chegou a conduzir a operação Eagle Claw, quando haveria o resgate dos reféns da embaixada em Teerã. Os F-14 seriam responsáveis pela cobertura aérea, porém a missão acabou abortada.
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A US Navy chegou a utilizar o F-14 na exclusão aérea contra o Iraque (1991-2003), na nova guerra contra o Saddam Hussein (2003), nos Balcãs (1994, 1995 e 1999) e no Afeganistão (2001 a 2003), mais notadamente em tarefas de reconhecimento aéreo e ataque ao solo. Ao longo dos anos, as novas versões F-14B e F-14D receberam melhorias, como novos motores, radares APG-71, IRST e sistemas de comunicação mais modernos. Armamentos como as bombas inteligentes JDAM passaram a fazer parte do arsenal.
O último voo de combate dos F-14 Tomcat dos Estados Unidos aconteceu em 8 fevereiro de 2006, quando duas aeronaves atacaram alvos no solo com bombas, uma missão bem diferente para a qual o caça foi originalmente concebido. Em 22 de setembro do mesmo ano era realizado o último voo do tipo com as cores da US Navy, tendo sido substituídos definitivamente pelos F/A-18E/F Super Hornet.
No Irã, porém, os F-14 ainda hoje fazem parte da defesa aérea do país. Em 2015, em uma guinada histórica surpreendente, um vídeo divulgado nas redes sociais mostrava caças F-14 iranianos escoltando bombardeiros Tu-95 russos.
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