AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA DOS ARQUIVOS DE ASAS

O F-14 foi a decepção da Guerra do Golfo?!

F-14A da US Navy sobre o Iraque Foto: US Navy

Famoso pelo filme Top Gun, de 1986, o F-14 Tomcat chegou à Guerra do Golfo cinco anos depois sob atenção pública internacional. A US Navy mobilizou 109 caças F-14 para a Operação Tempestade no Deserto. Porém, ao fim do conflito o modelo registrou apenas uma vitória ar-ar, contra um helicóptero Mi-8 “Hip”. E um F-14 acabou abatido.  

Dos seis porta-aviões da US Navy que estavam na região no primeiro dia da Desert Storm, em 17 de janeiro, cinco levavam caças F-14 Tomcat. No Mar Vermelho estavam o USS Saratoga (CV 60) com os esquadrões VF-74 “Be-Devilers” e VF-103 “Sluggers”, e o USS John F. Kennedy (CV 67) com os esquadrões VF-14 “Tophatters” e o VF-32 “Swordsmen”.

No Golfo Pérsico operaram o USS America (CV-66) com os esquadrões VF-33 “Tarsiers” e VF-102 “Diamondbacks”, o USS Ranger (CV 61) com o VF-1 “Wolfpack” e o VF-2 “Bounty Hunters”, e o USS Theodore Roosevelt (CVN 71) com o VF-41 “Black Aces” e o VF-84 “Jolly Rogers”.

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Caças F-14 a bordo do porta-aviões USS Saratoga durante a Desert Storm
Foto: US Navy

O F-15 teve prioridade

A falta de um grande número de vitórias aéreas por parte dos F-14 pode ser atribuída a três fatores. O primeiro é que os F-15C Eagle da United States Air Force (USAF) e da Arábia Saudita realizavam patrulhas aéreas de combate sobre o continente, o que garantiu mais alvos: ao todo, os F-15 teriam abatido 36 aeronaves iraquianas. Já os F-14 faziam a defesa aérea dos navios aliados no Golfo Pérsico contra eventuais ataques iraquianos, o que não ocorreu.

Outro fator foram as regras de engajamento. Com o histórico de ter abatido um avião civil iraniano sobre o Golfo Pérsico três anos antes, com a morte de 290 civis, incluindo 66 crianças, os Estados Unidos priorizaram a cautela antes de abrir fogo. Era necessária uma confirmação clara da identificação do alvo. Isso praticamente tirou a chance de os F-14 se valerem da sua principal vantagem, que era atacar alvos a grandes distâncias com seus mísseis AiM-7 Sparrow e, mais notadamente ainda, com os AiM-54 Phoenix.

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A configuração típica dos voos realizados durante a Guerra do Golfo começou com um par de mísseis AiM-54C Phoenix e um par de AiM-7F Sparrow sob a fuselagem, e mais um par de Sparrow e um par de AiM-9 Sidewinder nos pilones sob as asas, além de dois tanques externos de combustível. Com o avançar da guerra, passou a ser adotada uma configuração de quatro AiM-9 e quatro AiM-7.

F-14 Tomcat
Foto: US Navy

O terceiro motivo é que os iraquianos conheciam – e temiam – o F-14. Na Guerra Irã-Iraque, o Irã teria abatido pelo menos 160 aeronaves do Iraque utilizando o caça fabricado nos Estados Unidos. Isso também permitiu que as forças de Saddam Hussein conhecessem bem a assinatura eletrônica do radar AWG-9, e saíam de perto tão logo conseguiam perceber a presença de um F-14 na área.

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Isso porque, além de defender a frota, os F-14A da US Navy também puderam sobrevoar o território iraquiano para duas tarefas. A primeira foram os voos de reconhecimento, realizados com o uso do Tactical Airborne Reconnaissance Pod (TARPS), o que permitiu ajudar até na localização das então temidas baterias de mísseis Scud.

A segunda era escoltar as missões de ataque vindas do mar. Logo no dia 17 de janeiro, os F-14 ficaram responsáveis por uma varredura sobre as bases iraquianas H-2 e H-3, porém nenhum piloto inimigo ousou se opor aos caças da US Navy.

Caças F-14 Tomcat reabastecem para cumprir mais uma patrulha aérea sobre o Iraque Foto: US Navy

A única vítima dos F-14 na Desert Storm acabou sendo uma aeronave incapaz de perceber antecipadamente a presença do interceptador da US Navy, muito menos de combatê-la. No dia 6 de fevereiro de 1991, o F-14A pilotado pelo Comandante Ron McElraft, com o operador de radar Tenente Stuart Broce no assento traseiro, destruiu um helicóptero Mil Mi-8 “Hip” com um míssil AiM-9 Sidewinder de curto alcance.

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F-14 abatido

O abate ajudou o F-14 a encerrar a Guerra do Golfo pelo menos “empatado” em número de perdas. Isso porque no dia 21 de janeiro, o F-14 pilotado pelo Tenente Devon Jones foi abatido por um míssil antiaéreo. Jones ejetou e foi resgatado por forças especiais. Mas o operador de radar, Tenente Lawrence Slade, acabou capturado e se tornou prisioneiro de guerra.

A aeronave do esquadrão VF-103, que operava a bordo do porta-aviões USS Saratoga, cumpria uma missão de escolta próxima à base aérea de Al Asad. A arma utilizada foi um S-75 Dvina, designado SA-2 Guideline pela OTAN. Desenvolvido nos anos 50, já era conhecido pelos norte-americanos desde a Guerra do Vietnã, mas ainda assim conseguiu mostrar sua letalidade.

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Míssil SA-2 Guideline das forças armadas do Egito, semelhante ao utilizado pelo Iraque para abater um F-14 Tomcat
Foto: US Army

Pós-Guerra

O fim da Guerra do Golfo não significou o encerramento da presença do F-14 sobre os céus iraquianos. Em 5 de janeiro de 1999, durante a vigência das No Fly Zones sobre o norte e o sul do Iraque ainda liderado por Saddam Hussein, um par de F-14D e um par de F-15C lançaram mísseis contra um grupo de MiG-25 Foxbat, mas sem resultados conclusivos.

Em 9 de setembro daquele mesmo ano, um MiG-23 também invadiu a No Fly Zone e um F-14 fez o único disparo de um míssil AiM-54 Phoenix na história da US Navy contra um alvo real. Porém, o MiG conseguiu escapar. Na ocorrência de 5 de janeiro, o par de F-14D tentou lançar dois AiM-54, mas ambos tiveram falhas nos seus propulsores. Já eram armas próximas do fim da carreira operacional, tendo sido oficialmente retiradas do serviço ativo cinco anos depois.

Quando a Guerra do Iraque começou, em 2003, o F-14 Tomcat já não era mais a vedete dos combates aéreos, mas havia conquistado uma nova capacidade: o ataque. Apelidados de “Bombcats”, realizaram missões com bombas JDAM e até a transmissão de imagens em tempo de real para tropas em solo.

A última missão de combate de um F-14 foi realizada sobre o Iraque, em 8 de fevereiro de 2006. Um par de caças decolaram do porta-aviões USS Theodore Roosevelt para lançar bombas sobre alvos em território iraquiano. O modelo foi oficialmente retirado de serviço em 22 de setembro de 2006.

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