AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA

Índia não nega perdas, mas diz ter vencido batalha contra o Paquistão

Caças JF-17 Thunder do Paquistão teriam sido abatidos durante conflito com a Índia, no início de maio de 2025

“Tudo o que posso dizer é que alcançamos os objetivos que selecionamos e que todos os nossos pilotos estão de volta em casa”. A fala é do Air Marshall Awadhesh Kumar Bharti, diretor de operações  da força aérea da Índia. Em um rápido briefing para a imprensa local, em 11 de maio, ele deu poucos detalhes a respeito do confronto aéreo contra o Paquistão, porém, afirmou ter havido perdas de aeronaves de ambos os lados.

A postura é diferente da adotada pelo lado paquistanês. O próprio primeiro-ministro Shehbaz Sharif disse que a força aérea do seu país transformou em “pedacinhos” cinco jatos de combate da Índia. Fontes não identificadas do Paquistão, da Índia e dos Estados Unidos confirmam a perda de pelo menos um caça Dassault Rafale, fabricado na França e, atualmente, o vetor aéreo mais moderno do arsenal indiano. Seria o primeiro abate de um Rafale na história.

A grande questão estaria na capacidade de combate além do alcance visual (em inglês, Beyond Visual Range – BVR). O míssil de origem chinesa PL-15E teria se provado superior ao europeu Meteor, que equipa a frota de Rafale. Não seria apenas o batismo de fogo da arma produzida na China, como também uma prova de que a tecnologia disponibilizada por Pequim já supera a europeia. Além disso, a arma seria utilizada por caças J-10, fabricados na China, ou JF-17 Thunder, um projeto do Paquistão em parceria com os chineses. Mesmo os F-16 operados pelo Paquistão teriam ficado em segundo plano.


Fontes paquistaneses, também nunca confirmadas, detalharam que teriam sido abatido três caças Rafale, um Mirage 2000, um Sukhoi Su-30 e um MiG-29, ao longo de uma feroz batalha aérea com 125 aeronaves, somando-se os dois lados, com mais de uma hora de engajamentos, essencialmente a longas distâncias. As evidências aparentemente encontradas até o momento envolvem fotos de restos do que seria o Rafale indiano com a matrícula BS-001, o primeiro a ser entregue, em 2019, além de destroços de mísseis PL-15E.

Desinformação e contrainteligência

As redes sociais têm piorado o debate. Mesmo contas não ligadas ao tema da aviação militar têm repercutido a suposta vitória da tecnologia da China frente à francesa, já havendo a especulação de que o PL-15E seria superior ao MBDA Meteor. Circulam fotos de aeronaves perdidas em acidentes e até imagens criadas via inteligência artificial, incluindo a de um caça totalmente pintado com a bandeira da Índia.

O Chengdu J-10 é uma das opções de aviões de caça de origem chinesa Foto: Ministério da Defesa da Rússia

Desde os primeiros dias, a Índia sustenta que o Paquistão está por trás da disseminação do que chama de “fake News”. De acordo com o Press Information Bureau (PIB) do Governo da Índia, de fato o Paquistão realizou ataques em 15 alvos localizados em território indiano, porém, de acordo com o PIB, faltam evidências dos resultados que estariam sendo disseminados pelo Pakistan’s Inter-Services Public Relations (ISPR).  O PIB inicialmente negou a existência de um Rafale abatido, o que parece ter sido desmentido por fontes francesas e norte-americanas.

A entrevista indiana dá algumas pistas do que ocorreu, porém apenas em partes. Ao confirmar perdas, mas ressaltar que todos os pilotos estão em casa, o Air Marshall Awadhesh Kumar Bharti vai em consonância à indicação de que os engajamentos teriam ocorrido a longas distâncias, sem que as aeronaves invadissem o espaço aéreo do inimigo. Isso também significa que ratificações de abates são difíceis de ocorrer, pois todos os destroços ficariam dentro das próprias fronteiras, sob o controle de comunicação de cada país envolvido.

Pilotos que ejetaram também não seriam capturados pelos inimigos, diferente do que ocorreu, por exemplo, em 27 fevereiro de 2019, quando um MiG-21 Bison indiano foi abatido sobre o Paquistão e seu piloto, Wing Commander Abhinandan Varthaman, foi detido e repatriado já em 1º de março do mesmo ano. O militar se tornou uma espécie de herói nacional na Índia, com seu bigode se tornando popular entre os homens, sendo chamado “estilo Varthaman”. No Paquistão, viralizou o vídeo em que, ao ser questionado por militares paquistaneses se teria sido bem tratado, ele disse que o chá seria fantástico.

Wing Commander Abhinandan Varthaman tomando chá após ser capturado no Paquistão

Agora, sem pilotos abatidos atrás das linhas inimigas, certezas sobre aeronaves perdidas se tornarão mais difíceis. Como o próprio Air Marshall Awadhesh Kumar Bharti, qualquer confirmação significará dar informações preciosas aos inimigos e isto não será feito. O militar preferiu destacar a efetiva destruição de nove possíveis bases de grupos terroristas localizadas no Paquistão, a Operação Sindoor, ocorrida em 7 de maio, em resposta ao atentado terrorista ocorrido na Índia, em 22 de abril.

Perdas do Paquistão e cenários de vendas

Na entrevista, o diretor de operações da força aérea da Índia destaca que foram abatidos “alguns” caças JF-17 Thunder, aeronaves fabricadas no Paquistão, após o desenvolvimento conjunto com a Índia. Fontes não oficiais apontam ainda o abate de um Mirage III e de dois F-16, estes últimos supostamente pelos sistemas de defesa antiaérea Akash. Não foi confirmado sobre o comentado ataque simultâneo realizado contra bases aéreas paquistanesas.

O fato é que, além de estar na linha de frente da defesa do país, os paquistaneses também apostam no JF-17 como um produto a ser exportado, uma realidade que até agora tem sido frustrada, com apenas três unidades confirmadamente entregues para a Nigéria, doze para o Iraque e 16 para Myanmar. O Paquistão sempre destaca o JF-17 como alternativa ideal ao F-16, do qual é usuário desde os anos 80, contando hoje com cerca de 70 F-16A/B modernizados e 18 F-16C/D recebidos a partir de 2010. No caso do abate do MiG-21 indiano em 2019, o governo do Paquistão sustentou que um caça JF-17 Thunder teria abatido este jato mais um Su-30. A Índia, porém, sustentou que o crédito deveria ir para um caça F-16, sendo apresentados vestígios de um míssil AIM-120 AMRAAM, utilizado pelos F-16 paquistaneses. 

Caças F-16 do Paquistão teriam sido abatidos por sistemas antiaéreos da Índia

Agora, o combate ter envolvido mais de 120 aeronaves, de ambos os lados, e haver preocupação em vetores em fase de vendas, seja o Rafale, o Su-30, o JF-17 e o J-10, precisa ser considerado em qualquer análise séria sobre os reais resultados alcançados. Não se deve ter expectativa de reconhecimento oficial de perdas, porém, os fatos ocorridos entre 7 e 10 de maio certamente traçam o cenário da guerra aérea moderna – ainda que a principal característica dos conflitos humanos se destaque: a falta de possibilidade de se acreditar plenamente em qualquer lado.

Conflito nuclear

Felizmente, Índia e Paquistão já acertaram um cessar-fogo. Porém, o histórico de conflitos deixa apenas a certeza de que, cedo ou tarde, haverá novos disparos. Após as guerras de 1947-1947, de 1965 e de 1971, houve ainda embates em 1984, 1986-1987, 1999, 2001-2002, 2008, 2011, 2013, 2014-2015, 2016-2018, 2019, 2020-2021 e, agora, em 2025. Vale salientar que ambos desenvolveram armas nucleares e estudos apontam a impossibilidade de destruição da humanidade caso sejam utilizadas, porém, os efeitos do inverno nuclear decorrente levaria a bilhões de mortos.  

A Índia não tem planos públicos sobre a sua estratégia de uso de armamentos nucleares. Já o Paquistão decidiu que utilizaria as armas caso suas forças armadas não tivessem como impedir uma significativa invasão do seu território.

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Sobre o autor

Humberto Leite

Comentário

  • Algumas fontes dizem que os Rafale indianos, alem dos mísseis de cruzeiro e bombas, foram armados apenas com mísseis MICA de curto alcance. Se for verdade, isto foi de uma insanidade absurda, vista o fato das operações de ataque e combates subsequentes terem ocorrido a longa distância e os indianos sabiam que o Paquistão tinha os PL-15 para alvejá-los a 140 ou 160 Km de distância, que é o alcance da versão de exportação deste míssil.

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