“Tudo o que posso dizer é que alcançamos os objetivos que selecionamos e que todos os nossos pilotos estão de volta em casa”. A fala é do Air Marshall Awadhesh Kumar Bharti, diretor de operações da força aérea da Índia. Em um rápido briefing para a imprensa local, em 11 de maio, ele deu poucos detalhes a respeito do confronto aéreo contra o Paquistão, porém, afirmou ter havido perdas de aeronaves de ambos os lados.
A postura é diferente da adotada pelo lado paquistanês. O próprio primeiro-ministro Shehbaz Sharif disse que a força aérea do seu país transformou em “pedacinhos” cinco jatos de combate da Índia. Fontes não identificadas do Paquistão, da Índia e dos Estados Unidos confirmam a perda de pelo menos um caça Dassault Rafale, fabricado na França e, atualmente, o vetor aéreo mais moderno do arsenal indiano. Seria o primeiro abate de um Rafale na história.
A grande questão estaria na capacidade de combate além do alcance visual (em inglês, Beyond Visual Range – BVR). O míssil de origem chinesa PL-15E teria se provado superior ao europeu Meteor, que equipa a frota de Rafale. Não seria apenas o batismo de fogo da arma produzida na China, como também uma prova de que a tecnologia disponibilizada por Pequim já supera a europeia. Além disso, a arma seria utilizada por caças J-10, fabricados na China, ou JF-17 Thunder, um projeto do Paquistão em parceria com os chineses. Mesmo os F-16 operados pelo Paquistão teriam ficado em segundo plano.
Fontes paquistaneses, também nunca confirmadas, detalharam que teriam sido abatido três caças Rafale, um Mirage 2000, um Sukhoi Su-30 e um MiG-29, ao longo de uma feroz batalha aérea com 125 aeronaves, somando-se os dois lados, com mais de uma hora de engajamentos, essencialmente a longas distâncias. As evidências aparentemente encontradas até o momento envolvem fotos de restos do que seria o Rafale indiano com a matrícula BS-001, o primeiro a ser entregue, em 2019, além de destroços de mísseis PL-15E.
Desinformação e contrainteligência
As redes sociais têm piorado o debate. Mesmo contas não ligadas ao tema da aviação militar têm repercutido a suposta vitória da tecnologia da China frente à francesa, já havendo a especulação de que o PL-15E seria superior ao MBDA Meteor. Circulam fotos de aeronaves perdidas em acidentes e até imagens criadas via inteligência artificial, incluindo a de um caça totalmente pintado com a bandeira da Índia.

Desde os primeiros dias, a Índia sustenta que o Paquistão está por trás da disseminação do que chama de “fake News”. De acordo com o Press Information Bureau (PIB) do Governo da Índia, de fato o Paquistão realizou ataques em 15 alvos localizados em território indiano, porém, de acordo com o PIB, faltam evidências dos resultados que estariam sendo disseminados pelo Pakistan’s Inter-Services Public Relations (ISPR). O PIB inicialmente negou a existência de um Rafale abatido, o que parece ter sido desmentido por fontes francesas e norte-americanas.
A entrevista indiana dá algumas pistas do que ocorreu, porém apenas em partes. Ao confirmar perdas, mas ressaltar que todos os pilotos estão em casa, o Air Marshall Awadhesh Kumar Bharti vai em consonância à indicação de que os engajamentos teriam ocorrido a longas distâncias, sem que as aeronaves invadissem o espaço aéreo do inimigo. Isso também significa que ratificações de abates são difíceis de ocorrer, pois todos os destroços ficariam dentro das próprias fronteiras, sob o controle de comunicação de cada país envolvido.
Pilotos que ejetaram também não seriam capturados pelos inimigos, diferente do que ocorreu, por exemplo, em 27 fevereiro de 2019, quando um MiG-21 Bison indiano foi abatido sobre o Paquistão e seu piloto, Wing Commander Abhinandan Varthaman, foi detido e repatriado já em 1º de março do mesmo ano. O militar se tornou uma espécie de herói nacional na Índia, com seu bigode se tornando popular entre os homens, sendo chamado “estilo Varthaman”. No Paquistão, viralizou o vídeo em que, ao ser questionado por militares paquistaneses se teria sido bem tratado, ele disse que o chá seria fantástico.

Agora, sem pilotos abatidos atrás das linhas inimigas, certezas sobre aeronaves perdidas se tornarão mais difíceis. Como o próprio Air Marshall Awadhesh Kumar Bharti, qualquer confirmação significará dar informações preciosas aos inimigos e isto não será feito. O militar preferiu destacar a efetiva destruição de nove possíveis bases de grupos terroristas localizadas no Paquistão, a Operação Sindoor, ocorrida em 7 de maio, em resposta ao atentado terrorista ocorrido na Índia, em 22 de abril.
Perdas do Paquistão e cenários de vendas
Na entrevista, o diretor de operações da força aérea da Índia destaca que foram abatidos “alguns” caças JF-17 Thunder, aeronaves fabricadas no Paquistão, após o desenvolvimento conjunto com a Índia. Fontes não oficiais apontam ainda o abate de um Mirage III e de dois F-16, estes últimos supostamente pelos sistemas de defesa antiaérea Akash. Não foi confirmado sobre o comentado ataque simultâneo realizado contra bases aéreas paquistanesas.
O fato é que, além de estar na linha de frente da defesa do país, os paquistaneses também apostam no JF-17 como um produto a ser exportado, uma realidade que até agora tem sido frustrada, com apenas três unidades confirmadamente entregues para a Nigéria, doze para o Iraque e 16 para Myanmar. O Paquistão sempre destaca o JF-17 como alternativa ideal ao F-16, do qual é usuário desde os anos 80, contando hoje com cerca de 70 F-16A/B modernizados e 18 F-16C/D recebidos a partir de 2010. No caso do abate do MiG-21 indiano em 2019, o governo do Paquistão sustentou que um caça JF-17 Thunder teria abatido este jato mais um Su-30. A Índia, porém, sustentou que o crédito deveria ir para um caça F-16, sendo apresentados vestígios de um míssil AIM-120 AMRAAM, utilizado pelos F-16 paquistaneses.

Agora, o combate ter envolvido mais de 120 aeronaves, de ambos os lados, e haver preocupação em vetores em fase de vendas, seja o Rafale, o Su-30, o JF-17 e o J-10, precisa ser considerado em qualquer análise séria sobre os reais resultados alcançados. Não se deve ter expectativa de reconhecimento oficial de perdas, porém, os fatos ocorridos entre 7 e 10 de maio certamente traçam o cenário da guerra aérea moderna – ainda que a principal característica dos conflitos humanos se destaque: a falta de possibilidade de se acreditar plenamente em qualquer lado.
Conflito nuclear
Felizmente, Índia e Paquistão já acertaram um cessar-fogo. Porém, o histórico de conflitos deixa apenas a certeza de que, cedo ou tarde, haverá novos disparos. Após as guerras de 1947-1947, de 1965 e de 1971, houve ainda embates em 1984, 1986-1987, 1999, 2001-2002, 2008, 2011, 2013, 2014-2015, 2016-2018, 2019, 2020-2021 e, agora, em 2025. Vale salientar que ambos desenvolveram armas nucleares e estudos apontam a impossibilidade de destruição da humanidade caso sejam utilizadas, porém, os efeitos do inverno nuclear decorrente levaria a bilhões de mortos.
A Índia não tem planos públicos sobre a sua estratégia de uso de armamentos nucleares. Já o Paquistão decidiu que utilizaria as armas caso suas forças armadas não tivessem como impedir uma significativa invasão do seu território.
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Algumas fontes dizem que os Rafale indianos, alem dos mísseis de cruzeiro e bombas, foram armados apenas com mísseis MICA de curto alcance. Se for verdade, isto foi de uma insanidade absurda, vista o fato das operações de ataque e combates subsequentes terem ocorrido a longa distância e os indianos sabiam que o Paquistão tinha os PL-15 para alvejá-los a 140 ou 160 Km de distância, que é o alcance da versão de exportação deste míssil.